[Crónica] Bendita Bendita!

CRÓNICAS/OPINIÃO Hugo Rajão

Os festivais de música, ao ar livre, são, em Portugal, um formato popular. Talvez por isso se tenha tornado tão apetecível para o poder local. O desejo de ter na sua “terra” um festival é uma tendência que atrai muitos executivos ao nível autárquico (embora esta tendência se tenha esvanecido de alguns anos a esta parte).

Este desejo tem-se revelado muitas vezes, no entanto, num atalho para o erro. A ânsia de afluência aliada a um orçamento relativamente modesto (dentro dos parâmetros autárquicos) faz parecer com que a melhor estratégia a seguir seja a de contratar os artigos mais populares possíveis dentro dos limites orçamentais. Pela mesma lógica, contratar artistas de nicho afigura-se a pior.

O raciocínio não podia ser mais contraproducente. Os artistas populares que o dinheiro pode comprar (dificilmente uma autarquia portuguesa teria capacidade para contratar os Radiohead) são, por essa mesma razão, precisamente aqueles que tocam em todo lado, e muitas vezes com entrada gratuita. Não há, portanto, incentivo para o público se deslocar para ver alguém que atua frequentemente à porta de casa. Por conseguinte, a maioria destes festivais acaba por reunir o pior de dois mundos. São festivais indiferenciados de nicho. Indiferenciados por serem iguais a todos os outros, que existem em toda a parte. De nicho, porque só atraem os locais. Para dar um exemplo, este foi, na minha opinião, o erro cometido na última edição do Aves Fest.

Festivais como o Mimo (em Amarante) ou como o FMM (em Sines) provaram a tese contrária. Com a curadoria e a promoção certas, a música de “nicho” traz inderenciação e a inderenciação faz com que as pessoas se desloquem – em suma, gera um conceito e um público.

Com as devidas diferenças, o mesmo se aplica ao Festival Palheta Bendita, que se realizou nos dias 9, 10 e 11 deste mês no Parque de Geão (o festival passou por outros locais, mas este foi o principal). Se eu já gostava imenso do modelo antigo, confesso que o novo, mais próximo do de um festival de verão, ainda funcionou melhor. A harmonia entre a curadoria, o local a, a organização, e a afluência foi excelente (no mesmo fim de semana do Primavera Sound e de festas em todos os concelhos vizinhos).

É justo dizer que o Concelho tem, agora, um festival de música. Podem começar a convidar os vossos amigos, de dentro e de fora, para a edição do próximo ano.

À organização, parabéns e obrigado.

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