Numa sociedade em que se procura reduzir a cultura ao entretenimento do evento fugaz e à padronização de modelos elitistas de ocupação dos tempos livres ou de recreio, cujas opções culturais são entregues a grandes empresas que dominam toda a oferta, há quem resista e se mobilize para lecionar, semanalmente, aulas de gaita-de-fole e sanfona (Associação Cultural Tirsense), para promover o teatro na vila e freguesia mais periférica (Companhia de Teatro de Santo Tirso), para refletir em conjunto sobre o trabalho e a condição humana através das obras de Hesíodo, Saramago, Dickens ou Zola (Comunidade de Leitores).
Como os últimos meses demonstram, as associações culturais, os criadores e a população, tem sido o berço de criação e formação artística, de dinamização cultural identitária, do desenvolvimento de projetos culturais abertos e participados pelas pessoas em Santo Tirso. Sucedem-se iniciativas de expressão de raiz muito diversa, criativa e popular, que contrastam com as “mercadorias” homogéneas de cultura mediática. Desde o festival de teatro amador (Palcos de Santo Tirso), que passou pelas freguesias de Monte de Córdova e Reguenga, ao festival Sonoridades, que decorreu no Centro Cultural de Vila das Aves, ao festival Palheta Bendita, de músicas do mundo, que volta no próximo fim-de-semana, agora no Parque de Geão, e às iniciativas protagonizadas pela comunidade de leitores, sob o título “Com o Suor do Teu Rosto: Itinerários literários em torno do trabalho”, na Fábrica de Santo Thyrso.
A Câmara Municipal tem apoiado, e bem, a realização de tais iniciativas, em parceria com os agentes culturais e criadores, o que tem contribuído para um acesso mais democrático à cultura. Assim, é o momento de dar passos mais ambiciosos ao nível dos equipamentos e meios, de forma a assegurar um desenvolvimento cultural mais regular e permanente. Para tal, o projeto de construção de uma Casa da Juventude, cujo compromisso fora assumido em 2013, e que previa estúdios de gravação musical e salas de formação para teatro e outras artes, bem como o projeto de reconstrução do Cineteatro, devem sair da gaveta para a qual foram arrumados.
Ora, para o que já existe e para o que quer e pode vir a existir, são necessários espaços físicos, quer para ensaio, criação e/ou conceção artística, entre eles, salas de ensaio, ateliers, oficinas. Ao mesmo tempo, são necessários equipamentos de luz, som, palcos, panos de cena, ciclorama e outros equipamentos de uso pessoal. Para dar uso a tais equipamentos, alguém terá de programar a luz, preparar a amplificação sonora, transformar cenários, montar e desmontar palcos. Por fim, para que tal trabalho seja apresentado e participado, tem de existir salas de espetáculos e de exposições adaptadas às mais diversas áreas artísticas, bem como um espaço único de divulgação de todos os eventos previstos no concelho.
Em suma, é necessário avançar, sem mais demoras, para a construção de um auditório municipal, devidamente capacitado com equipamentos e trabalhadores especializados, que permita conciliar uma programação de teatro, dança, música e cinema, em cooperação e diálogo com outras estruturas municipais e regionais, assumindo, a par dos outros equipamentos já existentes, como o Centro Cultural Municipal de Vila das Aves, um papel fundamental na dinamização cultural de Santo Tirso.