[Crónica] Pode Alguém Ser Quem Não É?

CRÓNICAS/OPINIÃO Fátima Pacheco

Impossível ficar aqui e não espreitar as notícias do outro lado do hemisfério. Encontro-me dividida entre dois mundos, entre dois países que amo. Por vezes tenho medo de ligar a televisão. As notícias são inquietantes.

Da Europa somos bombardeados com imagens da guerra entre dois países: um que invade e outro que se defende. Fala-se de bombardeamentos e morte, de destruição, de auxílio para manter a guerra e a tentativa de adesão de uma nova nação ao bloco europeu. O que me assusta é a naturalização do ódio, do desespero, da desesperança.

De Portugal aparecem imagens de reivindicações, que sendo legitimas, desestabilizam o quotidiano das pessoas. Ressurgem escândalos de abusos sexuais de clérigos que parece não terem fim nem resolução fácil e necessária. Escândalos com políticos são um eterno continuum, deixa-se de falar de um aparece logo outro.

Do Brasil, na época das chuvas, surgem notícias de desabamentos de montanhas, do lixo, da lama, das enchentes, das mortes por afogamento dentro de carros, doutras que são motivadas pelas fortes correntes de rios que se revoltam, da derrocada de casas sem resistência à fúria de ventos e infiltrações construídas em lugares inóspitos. Casas que ficam submersas em água suja, contaminada que destroem os poucos bens familiares.

Mas de lá não aparecem só desgraças climáticas, escândalos têm vindo a público. O último foi a tentativa de apropriação de bens do Estado pela anterior família que esteve no poder. Joias de valor elevadíssimo entraram no país escondidas para não serem declaradas como propriedade da nação. Essas foram apreendidas na alfandega do aeroporto internacional mas soube-se que já tinham entrado outras que não foram detetadas pelos fiscais. Ficou no ar a dúvida da intencionalidade da oferta de tais valores.

E como pode alguém ser quem não é… fica o desejo de ver o ser humano a mudar de atitude. E já que nos achamos mais inteligentes que os outros seres planetários, que aprendamos a repartir, a viver em comunidade, a escutar e aceitar o outro na sua diferença e que saibamos agradecer por vivermos num planeta tão extraordinário e belo que precisamos preservar.

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