No passado dia 12 de novembro um grupo de estudantes, ao que tudo indica, composto, maioritariamente, por jovens de idade escolar, invadiu o edifício da Ordem dos Contabilistas, à hora em que, no seu interior, o Ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, integrava o painel de um evento. O grupo terá incorporado a marcha convocada pela “Plataforma Salvar o Clima”, que uniu vinte organizações portuguesas, e alertava para o fracasso climático do planeta e para o fim dos combustíveis fósseis.
Simultaneamente, no Egito, em Sharm el-Sheikh, decorria a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27). Segundo a página da mesma, nesta cidade africana, apreciaram-se os resultados da conferência do ano anterior (COP 26) com o objetivo de «propor ações numa série de questões críticas para enfrentar a emergência climática – desde a redução urgente das emissões de gases de efeito estufa, a construção de resiliência e a adaptação aos impactos inevitáveis das alterações climáticas, para cumprir os compromissos de financiar a ação climática nos países em desenvolvimento» (in https://unric.org/pt/cop27/). O mesmo sítio internáutico informa os leitores com exatidão os temas debatidos: a) as adaptações que teremos de fazer e enfrentar, e de como podemos proteger vidas e meios de subsistência em todos os lugares, à medida que o clima muda; b) as formas de mudança; c) o papel preponderante das energias renováveis como modo de enfrentar a crise climática; d) a importância da neutralidade carbónica e as necessidades de reduzir drasticamente as emissões no imediato; e) o significado das perdas e danos para as populações mais vulneráveis; f) e, por último, a relevância da proteção da biodiversidade, tanto para a limitação das emissões de carbono como para a adaptação aos impactos climáticos.
De facto, cimeira atrás de cimeira, tudo falha enquanto os ponteiros do tempo avançam e o termómetro sobe.
Perante o ativismo juvenil, é curioso verificar que uma parte da sociedade adulta continua em não estar interessada em refletir sobre o aquecimento global, o maior problema da humanidade. Apontam antes o dedo à estranheza dos “freaks” da ecologia. Os comentários de alguns analistas televisivos, líderes de opinião e simples internautas nas redes sociais, em muitos casos, versaram mais sobre os comportamentos, as roupas e os cabelos de alguns dos jovens que incorporavam a “manif”, do que sobre a causa climática. Além de alertarem para a ilegalidade da ocupação do edifício, até elucidaram os espectadores que os manifestantes usavam smartphones, como se tivessem obrigação moral de não os usar. É óbvio que invadir a Ordem dos Contabilistas ou encerrar uma escola não são a boa ação do dia. Porém, também não são crimes de lesa-majestade, como se propagandeou. Aliás, o próprio ministro nem empolgou o caso.
A realidade factual é que, enquanto os governos não taxarem ainda mais a poluição, vão continuar a existir cidadãos que possuem uma pegada ecológica brutal porque, entre outros exemplos, consomem diariamente frutas de outros continentes, viajam de avião desnecessariamente e deslocam-se em carros de alta cilindrada. Apesar da boa apresentação, os seus modos de vida são altamente poluentes.
Os grandes investidores, cujas empresas digerem grande parte dos recursos terrenos, são quem mais defende estes megaconsumidores e quem mais nutre os fazedores de opinião que distraem os menos atentos com rastas de manifestantes. Na verdade, para estes, não interessa esclarecer a sociedade sobre os oceanos de petróleo que alimentam o esplendor dos relvados das suas mansões ou sobre a falácia das máscaras “eco” e “verde” das empresas que dominam, muitas delas com unidades de produção altamente poluentes, deslocadas para países subdesenvolvidos. No fundo, é triste ver a virtude da eco-consciência juvenil rotulada e colocada na prateleira da subversão, como se fosse a ecologia a inimiga do planeta e da humanidade.