[Editorial] Calendários de um outono soturno

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

Uma sucessão de 365 dias, a que chamamos ano, tanto pode ser contada a partir de 1 de janeiro como de outro qualquer dia. E fazemo-lo, na verdade, de formas diversas, começando pela data do aniversário de cada um, pelo início do ano escolar ou desportivo e por ligação às festas religiosas. As calendas, primeiro dia do mês para os romanos, definem o calendário.

A data da festa religiosa de S. Miguel era, por tradição, data importante do calendário antigo porque muito ligada aos contratos de arrendamento e de trabalho no mundo rural. E as feiras grandes de S. Miguel eram forte atração para a população da paróquia de S. Miguel das Aves, que durante décadas do século XIX foi parte do concelho de Famalicão, onde tais feiras são tradição secular. O patrono da paróquia de Vila das Aves também tem por cá a sua festa tradicional e os festeiros anseiam pela continuação da tradição com novos protagonistas. A grande procissão teve, antes da pandemia, andores para quase todos os santos com altar na matriz e gente para os tirar e carregar. Assim possa continuar a tradição, bem como o arraial e a grande “batalha” das bandas de música em despique.

O calendário desportivo já leva algumas semanas e com elas alguns casos reveladores de alguma insanidade relacional à volta do espetáculo desportivo futebolístico, de que o que se passou em Famalicão e no Estoril são uma amostra, mais sentida por envolverem crianças. São mais vulgares e menos conhecidos os casos que envolvem grupos organizados e deve questionar-se a responsabilidade dos clubes, seja por ação (eventual apoio explícito ou não) seja por omissão (de responsabilização e ação disciplinar sobre elementos da sua própria agremiação desportiva).

“Os tempos pelo que se exige dos eleitos disponibilidade para apoiar, nas dificuldades, pessoas e sectores em que a crise tenha mais impacto”

O calendário escolar teve o seu arranque em relativa tranquilidade mas as notícias sobre a falta de professores de algumas disciplinas em certas regiões não são tranquilizantes para quantos gostariam de ver sempre melhorada a qualidade do ensino, passada a pandemia e de regresso à normalidade. A evolução dos indicadores que nos comparam com outros países exige procedimentos que as circunstâncias recentes desvalorizaram. A avaliação por testes e exames tem importância na validação desse tipo de comparações e são essenciais na avaliação das escolas e dos professores que nelas lecionam.

O calendário político traz nesta altura às notícias os planos e orçamentos para o próximo ano. A sua discussão, ao nível de freguesia, de município ou do estado central deve permitir a participação de todas as forças e trazer garantias do uso sensato e adequado dos meios financeiros que irão ser cobrados. Os tempos não são fáceis, com as consequências da guerra e da inflação (que só parcialmente resulta da guerra), pelo que se exige dos eleitos disponibilidade para apoiar, nas dificuldades, pessoas e sectores em que a crise tenha mais impacto. Nesta edição damos conta de várias propostas das forças políticas da oposição no município de Santo Tirso para o orçamento municipal, sendo certo que à maioria compete assumir a responsabilidade e humildade de ter em atenção as alternativas propostas, sendo particularmente relevantes, no contexto atual, aquelas que possam conduzir a um alívio nas taxas e impostos sobre as famílias a arrecadar pelos cofres municipais.

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