Tem sido prática corrente neste espaço de opinião privilegiar a minha atenção sobre assuntos de natureza local, especialmente aqueles que resultam do exercício da atividade autárquica, ou da falta desta, mas com reflexo direto no quotidiano da comunidade avense.
Nada tenho conta o facto de outros articulistas terem abordagens de índole diferente. É essa diversidade de correntes de opinião que constitui a essência da liberdade de imprensa, e simultaneamente o propósito do estatuto editorial deste periódico.
Sucede que, ao nível do exercício da atividade autárquica local, cerca de um mês depois do meu último artigo de opinião neste jornal, pouco ou nada ocorreu com relevância para ser tema ou assunto. Apenas mais umas pedras soltas aqui ou ali…, na calçada ou nos passeios, e mais buraco novo que, entretanto, abriu acolá!
Reparar, construir, conceber e projetar são verbos que muito pouco se conjugam nesta localidade, por este executivo.
A “Res Publica”, a “coisa pública”, foi apoderada pela incúria e o pelo desleixo. Está ao abandono e alguma dela até, alegadamente, desaparecida em parte incerta.
Na última Assembleia de Freguesia o presidente da junta acabou por revelar que se encontrava desaparecido um dos fontanários de pedra, de meados do século XX, do tempo da primeira rede de abastecimento público de água nas Aves. Inacreditável!
Também nessa Assembleia de Freguesia foi tornado público que, no Cadastro e Inventário dos Bens do Estado afetos à Junta de Freguesia, estão classificados e avaliados papiros num montante superior a 37 mil euros que, ao que parece, não existem!
Mas se não existem e, alegadamente, nunca terão existido, como foi possível terem aprovado o Inventário e nele fazer constar falsamente esse facto, contabilística e juridicamente relevante, com a consciência de que o documento está errado?
Um documento cujo teor é falso porque atesta uma realidade que conscientemente sabem que não corresponde à verdade!
“Até o relógio implantado na torre do edifício da junta assinala horas diferentes em cada uma das suas faces. E estão ambas erradas”
José Manuel Machado
Como foi possível o presidente da Assembleia de Freguesia, um jurista, não ter retirado da ordem de trabalhos a aprovação do documento em questão, para que este fosse expurgado dos erros e oportunamente submetido a aprovação?
Esta situação em concreto, ultrapassa o desleixo, a incúria, a arrogância, a prepotência e a ignorância. Configura, no mínimo, uma irregularidade.
Convém recordar que maioria absoluta não é poder absoluto!
Este facto, pela sua arrogância e prepotência, traz-me à memória o direto transmitido no Facebook de Joaquim Faria a celebrar a sua vitória eleitoral entoando o cântico: “E Esta Mer** é Toda Nossa, Olé, Olé! E Esta Mer** é Toda Nossa, Olé, Olé!”.
Afinal de que tanto se podem orgulhar os deputados do PS?
Da aprovação do Inventário cujo teor é falso, já vimos que não. Também não poderá ser da prestação de contas porque afinal transitaram para o exercício de 2022 mais de 50 mil euros do ano anterior que ficaram no banco e não foram aplicados em coisa alguma. Quando tanto continua por fazer, vá-se lá saber porque não foi aplicado esse dinheiro em prol de melhorias na nossa terra.
No meu entendimento não foi aplicado porque, não há planeamento, não há previsão, não há estratégia, não há objetivos concretos, não há investimento próprio, não há gestão. Vivem o dia a dia exclusivamente a reboque de algum investimento municipal, tratam dos assuntos com leviandade e falta de bom senso. Nos atos, nas formalidades, nos contratos, nos procedimentos administrativos, nas decisões e nas omissões.
A alegada aprendizagem dos quatro primeiros anos de mandato de pouco serviu. A verba orçamentada para a atividade da junta no ano em curso foi, entretanto, reforçada com o valor não investido no ano anterior, mas ainda assim não se consegue descortinar qualquer investimento ou melhoria na vila.
Até o relógio implantado na torre do edifício da junta assinala horas diferentes, em cada uma das suas duas faces, e estão ambas erradas.
Ainda lhes vai parar o relógio!