Premissa do projeto da Associação Humanitave pretende criar laços entre voluntários e ‘afilhados’ e assim lutar contra a solidão exacerbada pela pandemia. Olga Sousa e Maria de Fátima são exemplos de uma amizade que se formou durante a iniciativa.
A solidão é uma das poerias levantadas pela tempestade da covid-19. Solidão dos que vivem sozinhos, mas também dos que não vivem sós, dos que estão afastados dos familiares, dos idosos que vivem em lares, dos mais jovens que não têm a quem se “agarrar”. Os relatos são vários e começaram a chegar à Humanitave. Maria de Fátima é um desses casos. Doente oncológica, dependente do Rendimento Social de Inserção (RSI) e sem retaguarda familiar, a solidão era presença assídua na sua vida.
Até que aparece Olga Sousa, uma das voluntárias do projeto “Palavras e Afetos”, uma parceria da Humanitave com o Município de Vila Nova de Famalicão com o objetivo de “aproximar esta população, reduzindo a sua solidão e atenuando as suas dificuldades económicas”. São vinte e duas pessoas que estão a ser acompanhadas pela associação, cada uma devidamente sinalizada pela Segurança Social e que é “apadrinhada” por um voluntário.
“A Dª Fátima deixa-me orgulhosa todos os dias, pela sua garra, pela sua coragem e vontade de viver”
Olga Sousa
Na Humanitave desde 2019, Olga já participou em missões da associação na Guiné, mas foi no projeto “Palavras e Afetos” que conseguiu conhecer alguém especial, a Maria de Fátima. A conexão foi instantânea, não só pelo teatro, um amor comum que as une, mas até pela intensidade da história de vida da “afilhada”. Em criança, Maria de Fátima viu a mãe ser vítima de violência doméstica e foi obrigada a começar a trabalhar com seis anos. Aprendeu a ler e a escrever às escondidas e só agora, com 54 anos e após trinta e dois anos de um casamento onde era vítima de violência doméstica, conseguiu regressar aos estudos e concluir o terceiro ano de escolaridade. Um processo concluído, mas também em construção para que continue a aprender com a ajuda de Olga.
“As maiores dificuldades dela são económicas. Aqui entra a Humanitave com a doação de cabazes alimentares e medicamentos. Por outro lado, a falta de bases a Português, Matemática e Estudo do Meio dificultam a obtenção de emprego. Neste âmbito estou a fazer um acompanhamento a nível da sua formação, que passou já pela doação de material didático e realização de explicações”, disse Olga Sousa, em resposta às questões do Entre Margens.
“A Dª Fátima deixa-me orgulhosa todos os dias, pela sua garra, pela sua coragem e vontade de viver. É gratificante ter esta oportunidade. Aprendo muito com ela”, enalteceu a voluntária.