[Crónica] Pode alguém ser quem não é?

CRÓNICAS/OPINIÃO Fátima Pacheco

No Brasil, como em Portugal, fazem-se Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI). Todas elas têm de passar por assinaturas mínimas de parlamentares e ser aceites pelo Senado. Isso se as instituições funcionarem. Desta vez a coisa funcionou e a CPI das vacinas tem dado muita audiência televisiva.

Assistir aos interrogatórios e saber o que os elementos da CPI vão encontrando nos documentos que requisitam para averiguação tornou-se uma distração popular, já que os programas televisivos são francamente de muito baixa qualidade. Dessa distração relevam-se agrados e desagrados nas redes sociais: uns chamam aos senadores nomes que nem devo mencionar, outros aplaudem o que vai sendo descoberto. Os insultos entre as pessoas pululam à rédea solta e envergonham a qualidade cultural do povo.

Até agora os mais de meio milhão de mortos são reflexo do negacionismo de estado. Mas outro fato apareceu que a se confirmar é muito mais grave que o primeiro. Foram descobertos, pelo menos dois grupos, dentro do Ministério da Saúde, que tentavam comprar vacinas recorrendo ao que aqui chamam de “propina” e em Portugal de “luvas”. Comprar as vacinas não teria problema, caso uma delas não tivesse sido aprovada pela Anvisa, agência que faz o controle sanitário da produção e consumo de medicamentos (e não só) e a outra não fosse tivesse produção própria por uma instituição científica brasileira, a Fiocruz.

“Até agora os mais de meio milhão de mortos são reflexo do negacionismo de estado. Mas outro fato apareceu que a se confirmar é muito mais grave que o primeiro”

Fátima Pacheco

Todos intuímos que grandes fortunas se fazem em tempos de guerra e grandes crises. Não fosse a imoralidade e a falta de ética, fortuna é bom para quem a faz. Num país com grandes desigualdades sociais, é de lamentar que até na distribuição de vacinas essa desigualdade se observe. Infelizmente a população negra, mais pobre e deficientes não tem a mesma esperança de vida. Distribuir a vacinação não tendo esse fator em consideração alimenta desigualdade e acrescenta-os ao rol de mortos pela doença.

E como pode alguém ser quem não é… esperemos que a vacinação possa diminuir o contágio apesar de muitos considerarem a hipótese de recusar essa prevenção.

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