Santo Tirso precisa de uma casa de espetáculos: um apelo ao novo executivo camarário

CRÓNICAS/OPINIÃO Hugo Rajão

Há duas semanas tive o prazer de assistir a um grande concerto, na Casa da Criatividade em São João da Madeira. Tratou-se de um tributo a Frank Sinatra protagonizado pela parceria entre o cantautor, meu amigo, Rui Taipa e a orquestra de Jazz do Porto.

O deleite provocado pelo concerto depressa deu lugar a uma interrogação que me invadiu o espírito: este concerto poderia ter acontecido em Santo Tirso? A mim próprio respondi: dificilmente.

A cidade de Santo Tirso não dispõe, dentre dos seus equipamentos culturais, de nenhuma casa de espetáculos suficientemente apropriada para acolher eventos desta dimensão. Se é certo que não valerá a pena construir por construir, ou seja, se não houver uma programação que faça jus à infraestrutura, ao mesmo tempo a ausência de uma casa de espetáculos limita as ambições de uma política cultural. Mais do que isso, dada as características específicas de Santo Tirso, a sua inexistência traduz-se num subaproveitamento das potencialidades da cidade. Elencarei algumas delas:

Em primeiro lugar, a sua localização geográfica. Santo Tirso situa-se entre Porto e Guimarães e ao lado de Famalicão. Isto faz de Santo Tirso um apeadeiro desativado dentro de um circuito cultural já existente. Muitas das turnés e círculos culturais, ligadas quer ao cinema, ao teatro e à música, que ocasionalmente ocorrem na invicta e no Quadrilátero (parceria cultural entre Barcelos, Braga, Famalicão e Guimarães) facilmente poderiam incluir Sano Tirso na agenda. O executivo, aparentemente, pensa que a proximidade do turismo portuense possa fazê-lo chegar a Santo Tirso (daí a publicidade à cidade feita no aeroporto), mas estranhamente o mesmo raciocínio não é aplicado à cultura, quando o ecossistema cultural circundante, esse sim, é verdadeiramente próximo.

“A necessidade da criação de uma casa de espetáculos em Santo Tirso já fez parte dos planos do PS de Santo Tirso. Hoje, com muita pena minha, vejo que tal desiderato se vai desvanecendo”

Hugo Rajão

Em segundo, a sua orgânica arquitetónica e sociológica. Santo Tirso é uma cidade bonita, bem estruturada, com um centro facilmente “feito a pé”, e com uma vida noturna significativa. Assim sendo, a adição de uma casa de espetáculos nesta paisagem urbana e social seria perfeita. A potencial sinergia com vida recreativa parece-me óbvia – o copo antes ou de depois do espetáculo.

Por fim, o Concelho está recheado de artistas, das várias artes performativas. Na ausência de um espaço onde possam desenvolver e mostrar, pelo menos na fase mais embrionária o seu trabalho aos seus conterrâneos, ver-se-ão obrigados a migrar para públicos e clusters culturais vizinhos, ou na pior das hipóteses a ter de desistir.

A necessidade da criação de uma casa de espetáculos em Santo Tirso já fez parte dos planos do PS de Santo Tirso. Hoje, com muita pena minha, vejo que tal desiderato se vai desvanecendo.

Com base em tudo aquilo que aqui escrevi, apelo ao novo executivo, recentemente eleito, que reconsidere esta questão. Se no antigo cinema não é viável, que seja noutro local.  Os cidadãos do Concelho ficariam a ganhar. Santo Tirso seria melhor para viver.

Um Bom Natal e um Bom Ano para todos os que habitualmente leem as minhas crónicas!

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