[Opinião] Afinal, o PS não manda, nem aqui nem acolá!

Ana Maria Lages CRÓNICAS/OPINIÃO

O Partido Socialista entrou nas autárquicas de 2025 com a confiança de quem acha que o país é o seu quintal. Saiu delas com a sensação de que até o quintal ficou hipotecado. A derrota foi tão transversal que já ninguém sabe bem onde é que o PS ainda manda, talvez apenas na memória dos tempos em que bastava erguer uma rosa para o eleitor sorrir.

Durante décadas, o PS habituou-se a ver o poder autárquico como uma extensão natural da sua influência nacional. A rede de câmaras, juntas e estruturas locais funcionava como um colchão político e eleitoral, um terreno fértil onde se formavam quadros, se testavam discursos e se preparavam futuros líderes.

Mas nas eleições de 2025, esse edifício começou a rachar, e não foi apenas nas grandes cidades. As fissuras abriram-se onde menos se esperava: nas vilas médias, nas freguesias do interior, nos redutos onde o PS parecia intocável.

A perda da presidência da Associação Nacional de Municípios (ANM) e da Associação Nacional de Freguesias (ANAFRE) foi o primeiro sinal de que o império autárquico socialista estava a perder fôlego. O discurso da proximidade, tantas vezes repetido, começou a soar gasto, como um slogan reciclado que já não mobiliza nem emociona.

A máquina partidária, pesada e burocrática, não conseguiu acompanhar a mudança de humor do eleitorado, um eleitorado mais exigente, mais atento e cada vez menos disposto a premiar a rotina.
Mas o caso de Santo Tirso merece um capítulo à parte. O PS, habituado a exibir o concelho como exemplo de estabilidade e domínio, viu o cenário mudar de forma inesperada.

Em Vilarinho, Mário Ferreira alcançou a vitória que o concelho ansiava há muito. Em 2021 diziam que era “um miúdo”, que lhe faltava caminho e experiência para destronar o sistema. Pois bem, o tempo tratou de provar o contrário.

Com uma campanha simples, próxima das pessoas e sem grandes artifícios, Mário Ferreira soube captar o descontentamento e transformá-lo em energia política. Uma vitória clara, com sabor histórico, que pôs fim a um bastião comunista de décadas e deixou até alguns veteranos socialistas a coçar a cabeça, entre o espanto e a admiração.

Em São Tomé de Negrelos, Rui Almeida seguiu o mesmo trilho. Outra vitória local, simbólica, mas sonora, que mexeu com o mapa político e com o discurso confortável do “tudo controlado”.
Foram freguesias pequenas que se tornaram grandes sinais de mudança. Ali, o voto deixou de ser automático. As pessoas começaram a olhar para os rostos, para as propostas, para a credibilidade de quem se apresenta, e já não apenas para o símbolo no boletim.

Já no executivo municipal, o PS viu diminuir a sua margem e o último vereador socialista a entrar ficou no limbo, a sentir na pele que a hegemonia de outros tempos começa a ser desafiada, pouco a pouco, freguesia a freguesia.

O resto do país assistiu de longe, entre o espanto e o riso contido. Afinal, o partido que se apresentava como o grande gestor das autarquias parece ter esquecido que o voto, ao contrário da nomeação, não se decreta.

E depois, veio a noite eleitoral. Luzes, microfones, sorrisos ensaiados. Alberto Costa, eufórico, afirmou com convicção: “Em Santo Tirso, manda o Partido Socialista.” Pois, talvez ainda mande, mas já não sozinho.

No fim, o poder não se herda nem se proclama: conquista-se com cada voto. E, desta vez, o eleitorado fez questão de lembrar isso ao partido que julgava ter o país na palma da mão.

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