[Opinião] Quem protege quem trabalha?

Ana Isabel Silva CRÓNICAS/OPINIÃO

Esta semana, quase 300 trabalhadores de uma fábrica em Santo Tirso, a Polopiqué, ao chegarem das suas férias viram os seus contratos terminados, sem pagamento e sem qualquer explicação. O maior problema é que não têm acesso aos documentos para terem acesso ao subsídio de desemprego.

Ouvimos nas notícias que o presidente da Câmara de Vizela já pediu apoio ao Governo para resolver a situação destes trabalhadores. Leram bem: o presidente da Câmara de Vizela. Bem sabemos que a empresa de Vilarinho acolherá muitos trabalhadores daquele concelho. Mas a fábrica situa-se em Santo Tirso. O que ouvimos do presidente da Câmara de Santo Tirso? Nada que encaixe bem nos “reels” que tem feito em tempo de campanha? Não acha este um tema interessante para um vídeo ou comentário?

Basta abrir as redes sociais do atual presidente para perceber que nenhum comentário ou tomada de posição sobre esta situação foi feita.

É difícil aceitar que o presidente da Câmara de Santo Tirso se mantenha em silêncio perante um caso desta gravidade. Estamos a falar de quase 300 famílias deixadas à sua sorte, sem salários, sem explicações e sem garantias de futuro. O presidente da Câmara deveria ser o primeiro a defender a comunidade que representa. Onde está a pressão política sobre o Governo? A função de um autarca não é posar para a câmara, mas sim lutar por quem lhe confiou o voto. A ausência de liderança neste momento crítico é, em si mesma, uma forma de traição.

Mas a responsabilidade não termina aqui. O Governo, assiste de longe a esta tragédia laboral. E os empregadores, esses que beneficiaram de incentivos, de mão-de-obra qualificada e de anos de lucro, ficam em silêncio como se nada fosse com eles. Temos um Estado que não protege, empresas que não assumem responsabilidade e autarcas que se calam. O resultado é sempre o mesmo: o trabalhador é quem paga a fatura.

Os trabalhadores são quem cria riqueza, no país e no nosso concelho. Precisamos de olhar seriamente para o enfraquecimento do setor têxtil e prevenirmos situações destas, com diversificação de investimentos e formação. Mas a gestão feita pelos empresários também tem de ser fiscalizada e os mesmos responsabilizados quando colocam os trabalhadores nestas situações. Se assim não for, temos mais uma vez o lucro na mão de alguns enquanto o prejuízo é distribuído por todos. A proteção dos trabalhado tem de ser uma prioridade absoluta. E é precisamente quando surgem crises como esta que se mede a coragem e a responsabilidade dos líderes. Infelizmente, no caso de Santo Tirso, ficamos sem líder, sem Estado e, sobretudo, sem justiça para quem mais precisa dela.

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