[Em análise] Matemática eleitoral a um ano das autárquicas

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Com nove presidentes de junta a despedirem-se dos cargos por atingirem a limitação de mandatos, cenário político de 2025 é desafiante para os dois principais partidos. PS e PSD ultimam escolhas para cabeças de lista nas freguesias e fazem contas a uma matemática eleitoral que irá contar com um intruso chamado Chega. Vila das Aves será cenário de combate político acérrimo.

As autárquicas de 2025 vão colocar um ponto final num ciclo político. São as primeiras em que os autarcas eleitos depois da introdução da lei de limitação de mandatos, cumprirão na totalidade os três permitidos na legislação. Isto significa que todos aqueles que foram eleitos em 2013, pela primeira vez, não se podem voltar a candidatar.

Este cenário vai obrigar à mudança concreta em 9 das 14 freguesias do concelho de Santo Tirso. Jorge Faria (Vilarinho), Marco Cunha (Vila Nova do Campo), Moisés Andrade (Roriz), Roberto Figueiredo (São Tomé de Negrelos), Eurico Tavares (Além-Rio), Jorge Gomes (UF Santo Tirso), Lurdes Santos (Lamelas e Guimarei), Luciano Cruz (Carreira e Refojos) e José Pacheco (Água Longa) vão despedir-se das suas funções de presidentes de junta e dar lugar a novas caras.

Tal faz das autárquicas de 2025 um momento chave para a reorganização do xadrez político no concelho, só comparável com 2013 e 2001. O primeiro, não só por ter sido o ano onde se sentiram os efeitos dessa nova legislação eleitoral, como também por se ter juntado a polémica lei de agregação de freguesias. O segundo, especificamente no concelho de Santo Tirso, por ter sido a primeira eleição desde a separação da Trofa.

Não é por acaso que, numa altura em que falta ainda um ano para o sufrágio, os dois principais partidos do espectro político tirsense se encontrem em estado de ebulição interna na escolha dos cabeças de lista para as juntas de freguesia. Algo especialmente importante nos locais onde haverá mudança de rosto à frente dos seus destinos. 2025 é a derradeira consequência de 2013. Abre-se definitivamente um novo ciclo, mesmo que o status quo impere.

Status quo ou surpresas?

O panorama eleitoral saído das autárquicas de 2021 foi pintado de rosa. O Partido Socialista, liderado por Alberto Costa, não só conseguiu reforçar a larga maioria de que dispunha no executivo da Câmara e na Assembleia Municipal (AM), como fez o pleno ao conquistar todas as juntas de freguesia. É verdade que três delas eram listas independentes a quem o apoio socialista reforçou a posição favorável em Monte Córdova, Agrela e Água Longa.

Para o PS, portanto, em 2025 está em jogo a hegemonia total em território tirsense. Com a saída de nove presidentes de junta, o jogo fica mais aberto, pois uma má escolha de candidato pode ditar dissabores. Mesmo assim, olhando para o mapa das freguesias, dá para perceber que a grande maioria dos nomes que vai deixar o lugar, o faz em grandes bastiões ‘rosa’, o que certamente facilitará a tarefa.

Pode, no entanto, haver situações mais espinhosas do que outras face ao cenário atual. Se em Roriz, por exemplo, a sucessão de Moisés Andrade será assegurada pelo seu atual número dois no executivo, Domingos Silva, dando continuidade ao trabalho de doze anos, já em Vila Nova do Campo o cenário ainda está nubloso. O PSD, antecipadamente, lançou como candidato à freguesia Carlos Pacheco, ex-vereador na Câmara de Santo Tirso, um nome forte e respeitado. No entanto, do lado socialista, que goza neste momento da mais expressiva maioria do concelho, o sucessor do ultrapopular Marco Cunha continua a estar no segredo dos deuses.

O mesmo sucede na União de Freguesias de Santo Tirso, Couto (Sta. Cristina e São Miguel) e Burgães. Jorge Gomes é um nome consensual e extremamente popular entre os fregueses, tornando a tarefa de escolha do sucessor mais bicuda e, até ao momento, sem fumo branco. Aliás, no PS, por enquanto, as únicas certezas absolutas são mesmo os presidentes recandidatos, já que quanto a caras novas o processo ainda não está fechado.

No campo do principal partido da oposição, contudo, o cenário já começa a ganhar forma. Ricardo Pereira assumiu desde cedo a sua candidatura à Câmara Municipal e nas freguesias, para além de Vila Nova do Campo, com o supracitado Carlos Pacheco, também a UF da cidade (Vítor Carneiro), Roriz (Roberto Faria), Vilarinho (Mário Ferreira), Agrela (Joaquim Ferreira), Além-Rio (Paulo Sá) e Vila das Aves (Carlos Valente) já têm nomes fechados.

O partido quer contrariar o colapso eleitoral registado em 2021 com escolhas feitas com antecedência. A corrida, à partida, favorece o PS, cabendo aos sociais-democratas a tarefa de se colocarem na melhor posição possível para aproveitar um eventual deslize do adversário. Até porque ao contrário do opositor de centro-esquerda, o PSD não se pode focar apenas nas nove freguesias que vão mudar de liderança por força da lei. Terá de apresentar um cardápio completo de candidatos às catorze. Haverá mais surpresas na manga dos ‘laranja’?

Chega pode baralhar as contas

As autárquicas de há quatro anos primaram por um conjunto de estreias em eleições de índole local em Santo Tirso. Bloco de Esquerda e Chega apresentaram-se com candidaturas à Câmara e Assembleia Municipal, bem como algumas freguesias. A manta acabou por ser curta para ambos os partidos. Os bloquistas elegeram dois elementos para a AM e deputados na UF de Santo Tirso e Além-Rio, ficando a poucas centenas de votos de elegerem Ana Isabel Silva para o executivo da Câmara. O Chega ficou-se pela eleição de um representante na AM, Joana Machado Guimarães, e sem eleitos nas freguesias.

Em 2025, tudo se prepara para ser diferente. O Chega prepara-se apresentar listas em praticamente, se não mesmo a todas, as freguesias do concelho, impulsionando assim as suas ambições de eleger um elemento para a Câmara Municipal. Se tal acontecer, PS e PSD vão ter de encarar esta realidade de calculadora na mão. Sobretudo em freguesias com menor número de eleitores, uma divisão tripartida do voto, pode trazer surpresas associadas e não é claro quem sai beneficiado ou prejudicado.

O partido de extrema direita terá, pelo menos, de dobrar a votação de há quatro anos para atingir o patamar de eleição de um vereador para a Câmara Municipal, cenário que pode ser viável tendo em conta a maior representatividade que terá nos boletins de voto. Elegendo, quem perderá um dos mandatos? A lógica dirá que será o PS a perder um dos sete mandatos, mas nestas contas eleitorais, nem sempre a transferência de votos se faz de modo tão direto. E o que acontece ao PSD, subindo para um patamar de votação mais consentâneo com o seu passado eleitoral no concelho? A distribuição de mandatos no executivo da Câmara será muito interessante de seguir porque vai influenciar também o posicionamento interno dentro das listas de cada partido.

Isto sem contar com o Bloco de Esquerda, após o excelente resultado de há quatro anos, a tradicional candidatura da CDU, uma possível estreia da IL e as surpresas que podem sempre surgir do campo independente. Neste panorama fragmentado, cada voto vai contar para a definição da correlação de forças nos vários órgãos autárquicos.

Vila das Aves será cenário de combate acérrimo

A vitória de Joaquim Faria há quatro anos foi esmagadora. Foram 2358 votos, quase 60% da preferência dos eleitores de Vila das Aves, deixando-o com uma larga maioria para gerir os destinos da freguesia, elegendo 9 deputados, para apenas dois da coligação PSD/CDS e dois do movimento independente AVES.

A última pessoa a ter um resultado eleitoral dessa expressão, com mais votos no total (2955), mas menos percentagem da votação e a mesma representação na Assembleia (9-2-2) será agora o seu adversário nas urnas: Carlos Valente.

As reações a esta batalha anunciada com um ano de antecedência têm sido de expectativa por uma luta renhida, onde cada voto será fundamental. No entanto, é importante lembrar que esta não será uma luta de um para um. O xadrez político vai jogar aqui um papel fundamental nas ambições de ambos os candidatos.

Valente irá encabeçar a lista do PSD e Faria pelo PS, fica por enquanto por saber se o movimento independente AVES. irá voltar a apresentar-se a sufrágio ou se surgirá uma outra lista sem ligação partidária.

Depois, há a questão Chega. Há quatro anos, à última hora, não se concretizou a lista que estava a ser preparada, mas em 2025 tal será realidade. O candidato está escolhido e será Belmiro Coelho Ferreira. Resta saber que peso eleitoral terá e que influência vai exercer nas contas para a eleição do presidente da junta.

A um ano das eleições, os dados estão lançados. A temperatura política começa a subir. As ansiedades a borbulhar. Podem faltar cerca de doze meses, mas a locomotiva eleitoral desloca-se a todo o vapor. Está na altura de entrar a bordo. A próxima paragem é no outono do ano que vem.

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