O Brasil tem coisas que seriam impensáveis em Portugal. Não há como “discutir” crenças religiosas. Portugal é um país predominantemente católico e as práticas religiosas dentro deste contexto são aceites como manifestações de fé. Quem não se emociona com a procissão de velas de Maio, Agosto ou Outubro em Fátima?
No Brasil as religiões são diversas – catolicismo, evangélicos, espiritismo, candomblé, entre muitas outras que não saberei especificar. Mesmo dentro das práticas católicas podemos sentir as diferenças. Assistir a uma missa num convento jesuíta é bem diferente de assistir a uma celebração católica carismática. E a diferença está entre a interiorização da oração e a espetaculirização ou manifestação exacerbada de sentimentos não profanos. Não questiono, de modo algum, as múltiplas manifestações, uma vez que elas são modos diferentes de viver a relação com o divino.
O caso das igrejas evangélicas, e lembrando que estas são cristãs e muito diversas, as manifestações fogem muito do que eu vivi e, portanto, só poderei aceitar a minha ignorância. Quando alguém não conhece não tem o direito de tecer comentários ou elucubrações sobre os fenómenos. No entanto, não posso deixar de confessar que algumas me provocam algum incomodo.
“Acredito que a fé não se restringe aos templos, que se pode manifestar de formas diversas, só não acredito que se possa utilizar a fé desencadear atos políticos e provocar a desunião dos povos.”
Fátima Pacheco
Há alguns anos uma amiga, já falecida, relatou uma vivência na cidade de São Paulo quando sem se aperceber se viu envolvida numa nuvem de pessoas que caminhavam no que, hoje eu identifico como sendo a “Marcha para Jesus”. Esta acontece anualmente e junta milhares de pessoas. Pesquisando descobri que esse é um evento internacional que ocorre anualmente em várias cidades do mundo, une as igrejas cristãs em ato de expressão pública de fé, amor, agradecimento e exaltação do nome de Jesus Cristo, mostrando que a Igreja não se restringe aos templos.
Acredito que a fé não se restringe aos templos, que se pode manifestar de formas diversas, só não acredito que se possa utilizar a fé para desencadear atos políticos e provocar a desunião dos povos. Num momento em que o mundo vive a calamidade de uma pandemia foi com espanto que assisti a uma motociata promovida pelo presidente brasileiro que aglomerou pessoas que espero não venham a morrer infetadas pelo vírus.
E como pode alguém ser quem não é… resta-me ser crítica em relação ao acontecido que não foi pensando no próximo e muito menos em Jesus.