[Opinião] Vira o disco, toca o mesmo

Ana Isabel Silva CRÓNICAS/OPINIÃO

As eleições autárquicas da última semana redesenharam parte do mapa político nacional, mas não em Santo Tirso. A nível nacional, O PSD aumentou o número de câmaras e conquistou o controlo da Associação Nacional de Municípios e Freguesias, alcançando um dos seus principais objetivos. Ganhou também as duas mediáticas cidades, Lisboa e Porto. O Chega, apesar de algumas vitórias, ficou abaixo das suas próprias expectativas, enquanto o PS, que muitos previam em queda acentuada, manteve-se forte eleitoralmente, apesar de algumas perdas significativas.
No entanto, em Santo Tirso, o PS voltou a vencer. Apesar da descida nacional, a sua máquina local manteve-se eficiente e replicou o número de votos de 2021, embora com menor percentagem. Perdeu um vereador e alterou a composição do seu executivo com nomes como Jorge Gomes, já experientes na vida política e partidária. Há mudança de nomes, mas nenhuma renovação real nas ideias ou nas caras.
O PSD recuperou cerca de 6 mil votos, essencialmente o seu eleitorado base, que em 2021 se tinha abstido. A aposta numa equipa consistente e próxima foi positiva, mas não suficiente para inspirar mudança. Falta ao PSD capacidade de atrair novos quadros, causa e consequência das sucessivas derrotas eleitorais no concelho. Ainda assim, ao conquistar algumas freguesias, conseguiu quebrar a hegemonia do PS nesse nível. O Chega teve votação expressiva, mas longe do resultado que lhe permitiria entrar na vereação.
O Bloco de Esquerda, que em 2021 elegia dois deputados municipais e dois eleitos de freguesia, perdeu mais de mil votos e desapareceu da representação. A quebra nacional e a menor capacidade de dar visibilidade aos seus candidatos e ideias, pesaram fortemente. Isto revela também a necessidade de repensar a comunicação política local. A informação sobre o trabalho autárquico e das assembleias raramente chega à população, e a comunicação social local tem vindo a desaparecer, deixando o discurso público nas mãos dos executivos. Importante relembrar que as Assembleias sejam municipais ou de freguesia ainda não são gravadas e transmitidas. Claramente uma estratégia que compensou ao PS, assim como faltar a alguns debates importantes na campanha. Uma estratégia que pretende invisibilizar o escrutínio, para garantir que o poder continua confortável. Os próximos quatro anos serão assim de nova maioria absoluta do PS.
Cabe agora à oposição fiscalizar, propor e trabalhar de forma contínua, em vez de esperar pela próxima campanha. Nas autárquicas, o mérito e o trabalho anterior nem sempre se traduz em votos, mas continua a ser a única forma séria de construir alternativa.
Daqui a quatro anos, espera-se que não estejamos a discutir as mesmas promessas adiadas como o cineteatro ou o saneamento. Que os compromissos assumidos agora se cumpram, em vez de servirem apenas de material reciclado para a campanha de 2029.

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