[Opinião] Que é que se passou?

CRÓNICAS/OPINIÃO Rui Baptista

Desde o dia 18 de maio que uns andam a tentar perceber de que lado veio o vento que os varreu e outros a perceberem como foram bafejados pelos bons ventos.

Nos últimos anos temos assistido a um crescimento da abstenção, de eleição para eleição. Os políticos diziam que era o alheamento da sociedade, e que os agentes políticos deviam ter um papel activo para combater esse alheamento. Todos diziam o mesmo, mas de uma forma geral ninguém fez nada sério. Não houve reformas estruturais, não houve acordos de regime para melhorar áreas estratégicas e “apolíticas” como devia ser a educação, saúde e justiça.

Ninguém ligou ao fenómeno Passos Coelho, que após quatro anos de governação sob austeridade, conseguiu renovar o seu mandato com 36,8% dos votos e agora em 2025, após um ano de uma governação simpática o partido mais votado teve 32,1%. Isto quer dizer que já havia uma predisposição para uma governação que resolvesse os problemas do país, com erros é certo, mas as pessoas valorizaram a evolução conseguida.  Contudo o sistema tratou de rearranjar tudo e apear Passos Coelho do Governo, porque perceberam logo que, se com austeridade ganhou, imaginem a governar mais 2 anos sem a Troika, ainda ganhava com maioria absoluta.

Mais uma vez os portugueses deram um sinal que estavam a ficar fartos da política do mesmo, e perante as incertezas do PSD, com Chega ou sem Chega, e das birras dos partidos da extrema esquerda, deram uma maioria absoluta a António Costa, como quem diz: pega lá poder de sobra para pores isto na ordem. Mas o que fez o PS e António Costa? Deixaram desmoronar tudo mais uma vez, investiram menos que no tempo da troika e escancararam as portas à imigração. Mas ai de quem falasse de insegurança e imigração ilegal porque era logo xenófobo e racista. O clímax foi dinheiro escondido em estantes do IKEA no seu gabinete. Claro que António Costa, que já estava mais farto disto que nós, aproveitou e foi para a reforma dourada da Europa.

O que foi mudando nas eleições ao longo destes anos? A abstenção de protesto começou a ser substituída pelo voto de protesto naqueles que dizem “as verdades”. Antigamente o descontentamento era muito? A abstenção era alta; agora o descontentamento é muito? A votação no Chega é elevadíssima.

Em 2024 ainda se pensou que era um epifenómeno dos descamisados e revoltados, mas em 2025 já se percebeu que os eleitores estão a dizer: se os políticos não mudam isto mudamos nós e, não interessa quem lá pomos.

O PS como foi o partido do poder nos últimos 30 anos já levou com a ventania, agora resta o PSD. Se fizer efectivamente algo que combata a nossa burocracia, investimentos estratégicos, combata a insegurança e a imigração descontrolada, pode ser que sobreviva ao próximo vendaval.Mas se não fizer nada de mensurável, que coloque o país a crescer e as pessoas viverem melhor, podem ter a certeza não resistirá também ao próximo arrastão.

O Chega veio para ficar por uns bons anos. Diz-se que nas autárquicas as coisas não serão iguais, e efectivamente não. Há muita mobilidade de voto. Mas uma coisa é certa, a sociedade em geral, e em todo lado, está farta dos mesmos e está farta dos que estão há muitos anos no poder.

A sociedade está cansada de casos, de a PJ estar sempre a entrar nas câmaras e depois não dá em nada. No passado abstinham-se, agora votam no Chega. O PS vais uma vez pode ser a vítima, porque é aquele que tem mais Câmaras e em muitas delas há muitos anos no poder. A marca PS está muito desgastada.

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