Passados que estão os dias de euforia ou de choque, conforme os pontos de vista, e feitas as análises e reflexões sobre as causas dos resultados das mais recentes eleições legislativas e sobre as consequências, começa a fazer-se incidir o foco da informação política sobre as eleições autárquicas deste ano. Ainda não há datas marcadas, mas terão lugar no final de setembro ou início de outubro.
A especulação à roda das razões da mudança ocorrida na distribuição dos votos pelos partidos concorrentes, concelho por concelho e distrito por distrito, procura tirar ilações sobre o que poderá vir a ocorrer, sobretudo nos casos em que, por via das limitações de mandatos, haverá substituição de presidente, seja de câmara seja de junta de freguesia.
Ainda se vai acreditando que, nas autarquias é tudo diferente das eleições nacionais e que é o conhecimento da pessoa dos candidatos que orienta a decisão dos eleitores, independentemente da bandeira que ostentam. Será mesmo assim? É evidente que quem lidera os partidos a nível nacional não pode ir a todos os locais garantir a credibilidade de candidatos que não conhece ou discutir problemas locais que não sente. A forma de fazer campanhas com debates televisivos entre candidatos ou figuras de proa dos partidos pode ter efeitos nas grandes cidades, mas tenderá a ser ineficaz no resto do país. Mas, ainda assim, haverá muito quem se reveja nos líderes e nos símbolos e vote em sintonia com o seu grupo sem considerar outra qualquer opção.
Mas, a ser verdade que as recentes eleições legislativas comprovam uma mudança significativa na representatividade das diferentes correntes de pensamento político, será cada vez mais conveniente que se relevem os princípios básicos de informação completa e transparente, de tomada de decisão em processos abertos e acessíveis, da participação e do escrutínio. E que se promova a participação pública em assembleias municipais e de freguesia. São estes os caminhos a trilhar para consolidar a democracia. Reconheça-se que muitas formalidades regimentais e uma inequívoca subalternização das assembleias face aos executivos municipais e locais tiveram como resultado o progressivo desinteresse dos eleitores no acompanhamento dos eleitos no decorrer dos respetivos mandatos.
A consolidação da democracia é um processo que não pode parar. As tendências que nos chegam da América, do Leste e do Oriente e que apontam para a subversão dos valores democráticos acarretam enormes receios de proliferação de autocratas e ditadores, num retrocesso civilizacional que se supunha impossível.
Oxalá a democracia participativa a nível local possa contrariar a o desenvolvimento de populismos, de autocracias e de tiranias.