Gala de cinema do projeto do agrupamento de escolas de São Martinho é o ex-libris para os alunos finalistas do 9º ano que se aventuram pela sétima arte e exploram o trabalho coletivo durante todo um ano letivo.
À entrada da nave cultural da Fábrica de Santo Thyrso, a passadeira vermelha chamava pelas camisas abotoadas e pelos vestidos de gala. Para os jovens alunos do 9º do agrupamento de escolas de São Martinho este era o momento pelo qual tanto ansiavam. Não, ainda não se trata do fim das aulas. Há um quarto de século que a Gala dos Martinhos simboliza a epítome de ser estudante do ensino básico na instituição campense. A etapa final de um percurso de cinco anos, concentrado no trabalho de um ano letivo e celebrado numa noite de gala para toda a comunidade.
Mas afinal, o que são os Martinhos? Os prémios de cinema que distinguem o trabalho das turmas do 9º ano de escolaridade na produção de um filme, da conceção e argumento, passando pela rodagem, representação, realização e montagem. É o projeto comum que envolve as turmas finalistas e serve de artefacto quase arqueológico para as gerações. Afinal, o tempo passa, os jovens alunos transformam-se em adultos, mas a sua juventude fica ali preservada para sempre.
A ideia partiu de Queijo Barbosa e Luís Oliveira, antes da viragem do milénio. A reportagem sobre uma iniciativa semelhante picou o interesse do então diretor, deu origem a um primeiro filme produzido isoladamente cujo o sucesso escancarou as portas para aquilo que os Martinhos são hoje.
José Manuel Queijo Barbosa não esconde o tom de melancolia da noite. Ao Entre Margens fala da “paixão” necessária para manter um projeto desta envergadura de pé, quando tantos outros rapidamente terminam por falta dessa conecção emocional intrínseca por parte de quem tem responsabilidades.
Luís Oliveira, o atual diretor do agrupamento, recorda esses tempos iniciais. Era o responsável pela montagem final dos filmes numa altura em que os meios técnicos eram não só escassos como rudimentares. Longe do advento dos telemóveis, eram as câmaras de cassete que faziam o serviço. A exportação de ficheiros demorava horas e horas ao ponto de ser obrigado a “levar o computador fixo para a apresentação do júri para ser possível mostrar os filmes”.
Hoje, a realidade é bem diferente. Tudo é “bem mais simples”. Não só a tecnologia permite outro tipo de ferramentas como os próprios alunos estão “mais capacitados” para este tipo de exercício.
Ano após ano, aquilo que poderia ser visto como uma excentricidade tornou-se marca identitária de uma escola. Um legado que foi crescendo geração em geração. Hoje, toda a gente sabe que estudar em São Martinho significa chegar ao 9º ano e fazer um filme. Aliás, assinala Luís Oliveira, por vezes os alunos do 5º ano já estão a pensar no filme que querem fazer quando for a sua vez.
Ao contrário do que acontece com outras expressões artísticas de cariz mais individual, o cinema é uma atividade coletiva, que exige um esforço comum entre os vários departamentos da produção. Daí que seja a atividade ideal para fomentar o espírito de colaboração e criação em conjunto.
Em competição este ano estavam quatro películas em doze categorias: “O Segredo da Sala 15” do 9ºA; “Vozes Silenciadas” do 9ºB; “Além da Linha de Fogo” do 9ºC e “O Peso do Silêncio” do 9ºD. No final da noite foi a criação da turma D, onde se explora a violência no namoro, que arrecadou mais prémios, com seis estatuetas incluindo a mais desejada de Melhor Filme.
Com a celebração do quarto de século, foi ainda revelada aquele que passará a ser denominado como “Filme dos Filmes”, ou seja, o melhor filme entre todos os vencedores ao longo dos anos. A honra foi atribuída pelo júri a Retratos de Outros Tempos, produzido pela turma do 9ºC no ano de 2010.
Entre a euforia dos vencedores, a grande celebração da noite foi mesmo o seu próprio legado, cristalizado em imagens no grande ecrã enquanto registo vivo de quem passa pelos portões daquela escola.