Utopia é a ideia de um país imaginário em que tudo está organizado de forma superior e perfeita. A palavra utopia, ela mesma, foi criada por Thomas More no livro de ficção e de sátira política publicado em 1516, em que retoma as ideias expressas, quatro séculos antes de Cristo, por Platão em “A República” e associa as descobertas dos navegadores portugueses à possibilidade de existir uma ilha (Utopia) onde não houvesse ambição, corrupção e lutas pelo poder e em que as necessidades de todos fossem supridas pela propriedade em comum de todos os bens.
A evolução das ideias e das ciências/tecnologias deveria ter permitido a procura de caminhos para alguma utopia e permitir à humanidade avanços na modificação do mundo para melhor. Em boa verdade e na sequência de umas quantas tragédias, alguns passos foram dados nesse sentido. Assim, a criação da Organização das Nações Unidas, no rescaldo da segunda guerra mundial foi um pequeno avanço para uma utopia de paz mundial, mas que é atualmente incapaz de alterar o rumo das guerras em curso, aliás cada vez mais destruidoras. A tendência para a destruição e para o caos tem mais força que os ideais de construção de utopias.
As tragédias do clima, com incêndios florestais terríficos a par de cheias descomunais em regiões relativamente próximas, são cada vez mais frequentes, sendo certo que se trata de fenómenos que resultam, comprovadamente, de alterações climáticas originadas pelas atividades humanas. Também nas Nações Unidas se promoveu o desenvolvimento de ações com vista ao controle desses efeitos nefastos das atividades humanas. A incapacidade de fazer cumprir objetivos e de atingir metas, com medidas absolutamente necessárias, tem como consequência a certeza de que pior ainda virá.
Também é utopia pensar que poderia a humanidade entregar a liderança das instituições, dos países e das organizações mundiais aos seus elementos mais preparados, mais sabedores e mais sensatos. E que isso funcionaria como garante de boa governação e garantia do caminho para o bem-estar global. Mas nunca haverá a certeza de que os candidatos cumpram todos os requisitos e nem mesmo que, nas escolhas, quando possíveis, os eleitores sejam garantidamente sensatos para, no mínimo, escolher o menor dos males. Por outro lado, a polarização dos votos em dois campos opostos faz temer com que a escolha democrática desmereça os seus utópicos ideais. E não é só na América.
O livro que Thomas More escreveu subentendia a possibilidade de encontrar a ilha Utopia no planeta que, na sua época, se abria aos olhos dos europeus.
Atualmente, o planeta está a descoberto para todos e a toda a hora e a incapacidade de resolver as questões globais abre o caminho a tragédias sobre tragédias. A utopia, agora, é esperar que algo possa correr bem.