Passadas as eleições legislativas e não se conhecendo ainda os resultados definitivos nem a solução de governo que o Presidente da República vai propor ao parlamento, acumulam-se no horizonte perspetivas sombrias. A nível nacional, desperdiçada que foi a oportunidade de uma maioria absoluta, a instabilidade vai dar lugar a pressão crescente para alinhamentos com as tendências, muito presentes noutros parceiros europeus, de reforço do autoritarismo, da intolerância e da violência. Afinal, não há nenhuma excecionalidade portuguesa, como demonstra o cronista Hugo Rajão nesta edição.
Mas, sobre perspetivas sombrias, importa não olhar só para dentro do país. Não podemos assumir a pertença à União Europeia como a da condição de simples beneficiários de apoios estruturais. Mas, por exemplo, sobre as políticas de segurança europeia nada se disse em debates de campanha. É muito relevante notar, como alguém atempadamente assinalou, que nenhum dos líderes partidários se disponibilizou a dar entrevistas de fundo à imprensa escrita de referência, onde estas e outras questões importantes poderiam ser diretamente abordadas.
Todos sabemos que a Rússia mantém a guerra na Ucrânia há mais de dois anos e que Putin foi reeleito num clima de glorificação da ideia de um novo império, em eleições que não é possível classificar como livres justas.
O resultado, imprevisível, das eleições americanas do final do ano pode tornar a Europa ainsa mais vulnerável, se se concretizarem as ameaças de acabar com o empenho americano no apoio aos parceiros da Nato. Os países mais próximos da Rússia já mobilizam meios e pessoas. O presidente francês falou de eventual envio de tropas para a Ucrânia e teve como resposta a ameaça nuclear da Rússia. O presidente do Conselho Europeu alertou para a evidência de que “Rússia não se deterá na Ucrânia, tal como não se deteve há dez anos na Crimeia” e que, que “se a resposta da União Europeia” não estiver à altura da ameaça, e “se não der à Ucrânia apoio suficiente, será o próximo alvo russo”.
Há quem garanta que a Europa está perante um conjunto de condições idêntico ao que, nos anos de 1930, proporcionou o início e o escalar da segunda guerra mundial. O estudo e o conhecimento da História deviam permitir antever e prevenir o desenvolvimento de ameaças ao bem-estar, à liberdade e ao desenvolvimento. Pelo contrário, há tendência para desvalorizar conquistas civilizacionais dum passado mais ou menos recente e destruir as instituições criadas para a manutenção da paz e do progresso.
Comemorar os 50 anos do 25 de Abril obriga a refletir sobre o que é preciso continuar a fazer a respeito de Democracia e Desenvolvimento, dois objetivos apresentados pelo MFA na revolução.
As soluções políticas para as questões concretas resultantes da participação democrática são da responsabilidade dos defensores da democracia. O desenvolvimento não pode ser apenas material e económico. Tem de integrar o conhecimento, o pensamento, a história, como condição para evitar o regresso ao passado.