O cenário das eleições antecipadas exige um debate profundo sobre as questões da vida às quais é preciso dar resposta. Porém, quem passa os olhos pelas nossas televisões assiste somente à discussão estéril dos possíveis apoios para soluções governativas, reduzindo a disputa à forma e descartando por completo o conteúdo. Desse modo procuram-se ocultar os verdadeiros confrontos transversais a todo o país, com reflexos evidentes no nosso concelho.
Vejamos a habitação. Em Santo Tirso, um trabalhador da indústria, comércio ou serviços, aufere, em média, um salário mensal entre 850 e 950,00€. No concelho, é cada vez mais comum os novos contratos de arrendamento serem celebrados com rendas a rondar os 600€ e 700€ (T1 e T2). E quantos de nós não conhecem casos em que se aproxima o final do contrato e os inquilinos são pressionados a aceitar aumentos escandalosos das rendas sob pena do despejo. Quanto à prestação do crédito de habitação, em outubro de 2021, uma família pagava uma prestação mensal ao banco de pouco mais de 450 euros por um crédito de 150 mil euros, a 30 anos. Em novembro de 2023, a prestação subiu para mais de 818 euros (uma subida superior a 80%). Enquanto os trabalhadores e as famílias veem a prestação aumentar para valores incomportáveis, a banca privada apresenta os maiores lucros dos últimos 15 anos.
Vejamos o SNS. No Centro Hospitalar Médio Ave, existem relatos de falta de espaço no internamento, de falta de materiais básicos e lacunas ao nível dos profissionais de saúde, o que demonstra o estado limite a que está a chegar este Hospital. Ainda o ano passado o Governo do PS abriu caminho ao possível encerramento da maternidade do Hospital, que dá resposta a 240 mil habitantes de Santo Tirso, Trofa, Famalicão, servindo ainda freguesias de Paços de Ferreira e Barcelos. Enquanto a população reclama pela construção de um novo hospital, metade do OE para a saúde (8 mil milhões de euros) vai diretamente para os bolsos do setor privado da saúde.
Vejamos a situação dos idosos e das crianças. Por todo o concelho as famílias desesperam por uma vaga em lares que não existem. As famílias também não conseguem encontrar soluções de creches que sirvam as suas necessidades, com situações de longas listas de espera e de grande incerteza. Enquanto se exige a construção de redes públicas de lares e creches, o Governo do PS, apoiado pela direita, prefere conceder mais de 1600 milhões de euros em benefícios fiscais dirigidos no fundamental às grandes empresas.
Por fim, os salários e pensões. Quando aumenta o preço de tudo o que é essencial (habitação, alimentação, combustível, eletricidade, telecomunicações, etc.), não aumentam ao mesmo ritmo os salários e pensões. 3 milhões de trabalhadores auferem um salário igual ou inferior a 1 000€ mensais e 70% dos reformados têm pensões abaixo dos 500€. Por sua vez, só em 2022, dezanove grupos económicos acumularam lucros acima de 5,1 mil milhões de euros (aumentos de 30%).
Estes são os verdadeiros confrontos da ordem do dia. O confronto entre uma minoria abastada que é defendida pelos defensores de turno, PS, PSD, Chega e IL e a alternativa de esquerda encabeçada pela CDU, ao serviço do desenvolvimento do país, com os trabalhadores e o povo no centro da sua acção.
O acesso a uma habitação digna sem sacrificar parte significativa dos seus rendimentos; a construção de um novo Hospital de Santo Tirso, a garantia de uma rede pública de lares e de creches; o aumento dos salários, a começar pelo SMN fixado em 1000 euros no próximo ano; e o aumento das pensões em 7.5%, com aumentos mínimos de 70€ por pensão, só serão uma realidade com o reforço de quem sempre esteve verdadeiramente comprometido com tais lutas, o PCP e a CDU.