1 Na cimeira do clima realizada no Egipto, o secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou que a mudança climática é “o combate das nossas vidas e estamos a perdê-lo”, considerando que “continuam a aumentar as emissões de gases de efeito de estufa, a temperatura global continua a subir e o planeta está a aproximar-se rapidamente de pontos de viragem que tornarão irreversível o caos climático”. E acrescentou “estamos numa autoestrada para um inferno climático e continuamos a carregar no acelerador”.
O dramatismo do discurso de Guterres na abordagem do tema não parece ter sensibilizado os participantes na cimeira, que não lograram obter resultados significativos e adiaram decisões imperiosas. O que se verifica, porém, é que não há consensos para uma abordagem faseada e coordenada das ações necessárias para dar sentido a um processo de mudança e o que mais se vê e ouve são pretensões de intervenção radical que nada resolvem.
Na perspetiva do secretário-geral das Nações Unidas, os esforços para travar a guerra na Ucrânia e outros conflitos são de escala e cronologia diferentes, porque a transição climática é o desafio central do tempo atual.
“O desafio imediato de um inverno em guerra é mais premente, para quem o vive, do que a questão do clima”
Mas atual e radical é a destruição de infraestruturas elétricas que a Rússia está levar a cabo na Ucrânia, para tornar o inverno num seu aliado de guerra. Era suposto que a lembrança das guerras do passado, que originou a organização das Nações Unidas, promovesse a paz. Ou que, pelo menos, limitasse os efeitos destrutivos dos conflitos. Tivemos a ilusão de que até as guerras tinham algumas regras, mas está à vista que não é assim. O desenvolvimento de qualquer guerra conduz inevitavelmente ao terrorismo, que já predomina na situação atual e que importa denunciar. O desafio imediato de um inverno em guerra é mais premente, para quem o vive, que a questão do clima. E a destruição do planeta vai-se fazendo de várias maneiras: há grandes receios de que a guerra possa destruir a central nuclear de Zaporizhzhya, o que, a acontecer, terá repercussões em toda a Europa. Apesar de todas as tentativas da agência das Nações Unidas para a energia atómica, ainda não foi possível criar una zona de segurança à volta da central e os contendores acusam-se mutuamente da responsabilidade dos bombardeamentos e atribuem responsabilidade ao outro.
Entretanto joga-se futebol a nível mundial no Qatar e ouve-se falar de corrupção na escolha do local, contestar a decisão de jogar no inverno e criticar as deslocações dos políticos pelo apoio que subentendem a um regime local nada recomendável. Pudesse o campeonato do mundo de futebol contribuir de alguma maneira para desanuviamento do clima de crise das instituições e relações internacionais e diríamos estar todos com o futebol como estamos com nossa seleção sem que sintamos a necessidade de ir ao local ou de que vá alguém por nós.
2Nesta edição do Entre Margens poderá ver assinalado o centenário da Associação de S. Miguel e o 92º aniversário do Clube Desportivo das Aves. A longevidade das instituições merece destaque mas a vitalidade que lhes permite encontrar soluções de continuidade é o motivo maior de felicitação e de parabéns. Fazemos votos de que seja possível superar as dificuldades do momento presente de forma a retomar um caminho de sucesso ao nível dos feitos gloriosos do passado.