Na conferência de imprensa que serviu para apresentar o balanço do primeiro ano de mandato, o executivo municipal revelou que 35% dos compromissos eleitorais já estavam cumpridos.
Como é por demais evidente, em Vila das Aves a realidade está muito longe de ser esta. Para tanto basta consultar a notícia do próprio município que está publicada no site da internet e constatar que, das medidas prometidas para este mandato, apenas está a decorrer a intervenção no Centro Cultural Municipal e a requalificação da Rua D. Afonso Henriques. Nem tão pouco as promessas de mandatos anteriores já concluídas, estão sequer a funcionar. Tal como o espaço de street workout no Largo Francisco Machado Guimarães, também o Parque do Verdeal aguarda inauguração. Até o Jornal do Municipal, na sua edição de setembro, ao longo de 24 páginas, confirma que nada se passa em Vila das Aves que tenha merecido registo.
Estamos numa localidade, cujos limites territoriais fizeram dela um enclave entre concelhos e que cada vez mais parece um exclave no concelho de Santo Tirso.
Para além de algum desassossego que isso possa começar a gerar na comunidade, é imperioso não consentir que se trate assim esta terra e se desencrave o seu desenvolvimento. Mais do que uma questão de ideologia política trata-se de não permitir a desqualificação e a degradação de um núcleo urbano merecedor de muito maior consideração, tanto do poder instituído como da parte da oposição.
A este propósito devo confessar que também fiquei chocado quando verifiquei que entre as 75 medidas que o PSD sugeriu para o orçamento municipal, apenas 4 diziam diretamente respeito a Vila das Aves. Mais grave ainda é que apenas uma pode ser considerada premente, porque as restantes são sinónimo de um desconhecimento avassalador acerca das premências inadiáveis e dos anseios da população. Face ao incomensurável número de questões básicas e urgentes por resolver, vir propor piscinas e museus é de um idealismo absurdo que, coerentemente, não podemos consentir a quem quer que esteja no poder ou na oposição. Como é possível ignorar que, tanto no centro como na periferia desta vila, ainda haja tantos problemas básicos por resolver?
“Quando coisas tão elementares no quotidiano de todos os avenses se encontram anos a fio por resolver, tais como consertar todos os passeios em mau estado e requalificar as artérias que estão uma lástima, ver o PSD propor para Vila das Aves a aquisição de um terreno para uma piscina ou falar de uma ligação da linha do metro de superfície, só pode ser uma brincadeira de mau gosto”.
Quando coisas tão elementares no quotidiano de todos os avenses se encontram há anos a fio por resolver, tais como, consertar todos os passeios em mau estado e requalificar as artérias que estão uma lástima, ver o PSD propor para Vila das Aves a aquisição de um terreno para uma piscina ou falar de uma ligação da linha do metro de superfície, só pode ser uma brincadeira de mau gosto, ou de quem acabou de aterrar vindo de Marte! Por isso não me surpreendeu a falta da acolhimento que estas propostas mereceram da parte do município.
É espectável que no panorama da política local a palavra-chave do momento seja Orçamento. Sem a carga dramática do Orçamento do Estado, é ainda assim, natural e desejável que este tema mereça cuidados especiais e pés assentes no chão por parte da governação local, ou de quem se proponha constituir alternativa. Pelos vistos, saúde financeira é coisa de que goza o município para fazer mover qualquer um dos eixos a que deu prioridade. Por isso, não me espanta que o valor total do Orçamento para 2023 cresça em relação ao ano anterior, subindo de 48,1 para 58,2 milhões de euros. Neste bolo cabe a requalificação da rua João Bento Padilha e a Av. 4 de Abril de 1955. Mas sobre a 2ª fase de intervenção na Rua Silva Araújo e demais reabilitação urbana do plano aprovado em 2016, ainda nada foi revelado. Vila das Aves vai assim continuar a permanecer num plano de mobilidade urbana insustentável face à “capital do concelho”, cidade onde todos os arruamentos e espaços públicos se vão adaptando a um Plano de Mobilidade Urbana Sustentável.
Perante o agravamento da tradicional e histórica macrocefalia que o município assume perante o resto do território concelhio, sem alternativas credíveis e uma Junta de Freguesia incapaz, devemos repensar o papel que nos cabe, no espaço a que estamos submetidos, para fazer inverter o rumo da situação.