[Entrevista] Henrique Pinheiro Machado: “Estamos perante uma Câmara desgastada, que continua a fazer piruetas para ser notada”

ATUALIDADE

Candidato que encabeça a lista “Prá Frente Santo Tirso” fala dos apoios partidários do “Nós, Cidadãos” e do PPM, do que o move depois de tantos anos de combates autárquicos e das prioridades para o concelho.

Praça General Humberto Delgado, Santo Tirso

Conhece cada esquina do concelho como poucos ou não fosse um veterano da luta autárquica em Santo Tirso. Henrique Pinheiro Machado, reconhecido médico pediatra, ex-presidente da junta de freguesia de São Tomé de Negrelos, volta aos holofotes eleitorais pela terceira vez consecutiva a nível municipal.

A diferença é que desta feita teve que deixar a designação de independente, encabeçando uma lista apoiada pelo “Nós, Cidadãos” e o PPM para fazer face às complicações que a pandemia e as indecisões legislativas do parlamento impuseram aos movimentos de cidadãos.

Em entrevista ao EM, envolvido pelas ruínas do Cineteatro de Santo Tirso, onde se pode ler subtilmente a mensagem pintada e rasurada na parede “Basta de Corrupção”, Henrique Pinheiro Machado sublinha a necessidade de uma sala de espetáculos com dimensão para albergar espetáculos de grande envergadura. Se hoje não o tem é por culpa própria da câmara municipal. “O terreno é da câmara. A câmara tem um projeto. Há que arranjar soluções. Santo Tirso podia ter duas casas de excelência, o Cineteatro e o Cine-Aves, mas não toma qualquer iniciativa para recuperar essas casas para uso público.”

Nos últimos dois atos eleitorais liderou um movimento independente, agora encabeça uma lista de coligação entre o Nós Cidadãos e o PPM. A que se deve esta mudança?

A principal razão foi a previsível dificuldade em recolher mais de duas mil assinaturas de cidadãos eleitores. Em termos de pandemia, não concebia muito fácil recolher assinaturas na rua porque toda a gente se recata e procura estar o mais isolada possível. Esta solução pareceu-me mais viável e também tem um benefício acrescido: o público pode reconhecer que houve dois partidos que decidiram apoiar uma candidatura independente em Santo Tirso.

A indefinição quanto à lei dos movimentos independentes dificultou todo este processo. As mudanças efetuadas foram as necessárias?

As mudanças feitas não eram as necessárias. Era preciso ir mais longe: estabelecer um paralelo de igualdade em relação aos partidos políticos, nomeadamente, nas despesas de campanha: os movimentos independentes têm que pagar o IVA, enquanto os partidos políticos não têm. Além disso, vieram tarde demais. Acredito que foi propositado para prejudicar os movimentos independentes.

Quando observa o concelho, o que salta à vista ao candidato Henrique Pinheiro Machado?

É um concelho cada vez mais desertificado. Não só na cidade, como nas freguesias. Isso reflete-se nos Censos. Tivemos uma redução de quase 4 mil residentes no concelho, a segunda maior redução a nível de todo o distrito do Porto. As pessoas não se sentem atraídas para se fixarem em Santo Tirso, quer a nível individual, comercial ou industrial. Além disso, é um concelho que peca por, na maioria das vezes, fazer obras que seriam estruturantes e acabam por ser apenas ‘serviços mínimos’.

Quais são os eixos prioritários da sua candidatura?

Primeiro, tentar fixar a população, nomeadamente a população jovem que está a abandonar o concelho. Propomos a redução do IMI para o mínimo legal, a retenção do IRS zero, a retenção da derrama e reduzir as taxas de recolha do lixo. Acho que é escandaloso que a câmara esteja a ganhar dinheiro com um serviço público essencial.

Além disso, a falta de habitação. Habitações sociais provavelmente não serão necessárias mais, mas deveria haver um escrutínio maior para saber as suas necessidades. Deveria ainda haver uma aposta na habitação a custos controlados e criar condições para que os particulares construíssem mais habitações para alugar. Depois, como alguns municípios fizeram, comprar prédios devolutos ou ate construir prédios e pô-los no mercado de arrendamento e de venda a preços razoáveis.

O facto político deste ciclo autárquico foi a renúncia de Joaquim Couto do cargo de presidente de Câmara. Santo Tirso já conseguiu recuperar dessa mancha?

Não conseguiu recuperar e por uma razão muito simples: o atual presidente da câmara era vice-presidente do Dr. Couto. Ambos estão envolvidos em processos judiciais que ainda não estão resolvidos e era espectável que este presidente se distanciasse publicamente, mas não o fez. Nunca teve uma atitude de desvinculação. Continua tudo na mesma. O Dr. Couto não está, mas tem lá o seu delfim.

A desagregação das uniões de freguesia volta a estar na agenda política. Será benéfico para as populações regressar à independência do passado?

Acho que é inquestionável o benefício para as populações e para a coesão territorial. O caso de Refojos é flagrante. Uma lei feita a régua e esquadro sem ter em atenção as características históricas, sociais e culturais das populações. Temos que apoiar o movimento cívico com o desejo de restaurar a independência, porque se sentem ostracizados, numa terra de ninguém.

No entanto, tenho sérias dúvidas que muitas das freguesias consigam desagregar-se novamente. A lei é impeditiva disso, uma vez que todo o processo tem que passar pelas Assembleias de Freguesia e Municipal: são demasiados escolhos.

A sua cisão com o universo partidário tem criado dificuldades?

Fui presidente da comissão política do CDS durante muitos anos, mas saturei-me de ver aquilo que envolvia muitas das pessoas que estavam à minha volta. A tentativa de conseguir benefícios aqui e acolá, eventualmente um lugar para deputado ou um emprego. Foi por isso que decidi criar listas independentes onde aparecem pessoas descomprometidas e movidas por um ideal.

Com que expectativas parte para o processo eleitoral?

Vale a pena continuar. Enquanto puder e entender que tenho forças para poder lutar por aquilo em que acredito, com os projetos que acho que devam ser concretizados, estarei aqui. Esta é a candidatura que tem mais possibilidade de ter sucesso porque estamos perante uma Câmara desgastada, que continua a fazer piruetas para ser notada e tentar ganhar votos. Este é um momento bom para candidaturas alternativas.

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