[Editorial] Acompanhar campanhas: duas notas breves

CRÓNICAS/OPINIÃO Diretor

1 As redes sociais ditaram novos modelos de comunicação eleitoral. São as transmissões em direto, as transcrições descuidadas dos discursos, os comunicados, as fotografias às dezenas, quando não centenas, os comentários, tudo em profusão capaz de proporcionar garantida indigestão informativa a quem tente fazer um acompanhamento adequado.

Não é esse o nosso papel, não é isso que pretendemos neste jornal de papel, neste papel de jornal.

Atrasados no tempo? Seguramente que não. Na verdade também estamos nas redes sociais. Mas a nossa atitude e a nossa motivação, mantendo o modelo tradicional de comunicação, é a mais adequada à promoção da leitura lenta, com o vagar necessário à perceção das intenções e das subtilezas dos discursos e ao confronto de programas e intenções. Proporciona o registo, para a história, das propostas, das prioridades e das limitações dos candidatos. E promove a memória futura dos membros das listas, das suas potencialidades para encarar a alternância democrática e das miragens com que anunciam um futuro que serão ou não capazes de construir.

Cobrir as eleições autárquicas não significa transcrever exaustivamente as intervenções, as movimentações e as propostas dos candidatos mas apresentar aquilo que um trabalho jornalístico profissional sério considere adequado ao esclarecimento dos leitores, dando relevo e espaço idênticos a todas as candidaturas.

Esperamos a compreensão dos nossos assinantes-leitores.

“A efetiva reabilitação urbana de Vila das Aves depende muito mais da transformações das inúmeras ruínas existentes em edificações de qualidade do que da execução de uma lista de obras públicas”

Américo Luís Fernandes, Diretor

2 Em pré-campanha por diversas autarquias e regiões, o primeiro-ministro António Costa tem vindo a salientar a importância dos autarcas que vão ser eleitos no próximo dia 26 para a aplicação dos fundos europeus de recuperação e resiliência.

Denominar de bazuca tal ferramenta não foi ideia feliz, já muitos o afirmaram. Mas há, um domínio da sua aplicação nas autarquias em que a denominação pode ajustar-se e ser adequada: o domínio da requalificação urbana, usando a bazuca para demolir.

Veja-se o caso da requalificação urbana de Vila das Aves. Trata-se de algo já definido e que, como noutros casos, passou ao lado de uma discussão pública alargada.

A campanha eleitoral pode ser ocasião para levantar um pouco o véu sobre o que se esconde por trás dum PERU (Plano Estratégico de Requalificação Urbana) em vigor há mais de dois anos para uma ARU (Área de Requalificação Urbana) aprovada há mais de cinco. E a questão não é só saber se os proprietários interessados na requalificação dos prédios situados dentro da área de requalificação conhecem e aproveitam as vantagens que isso proporciona. Ou quais as obras que a Câmara prevê para o espaço público.

Muito para além disso, é importante que os proprietários de prédios em ruína possam antever alternativas de construção nos casos em que a reconstrução pura e simples não faz qualquer sentido. Com a garantia de que, se não constrói pode vender e se não vender possa a expropriação e demolição à conta da Câmara ser uma solução de recurso.

A efetiva requalificação urbana em boa parte de Vila das Aves depende muito mais da transformação das inúmeras ruínas existentes em edificações de qualidade do que da execução duma lista de obras públicas que, de um modo ou de outro e mais ano menos ano a câmara acaba por ter de fazer.

Ou que até já estavam feitas à data de aprovação do PERU, em 2019, e lhe ajudaram a compor o recheio.

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