Ontem, tema de capa: “acordos secretos entre Benfica e Aves” e “relações de dependência”. Hoje: “Luís Duque associado a depósitos em dinheiro”. De que se trata, afinal?
Desde o final da época em que o Desportivo das Aves conquistou a Taça de Portugal que o jornal Público tem vindo a investigar a gestão do Clube Desportivo das Aves SAD e do seu administrador de então, Luiz Andrade. Aquilo que o Público hoje acrescenta ao assunto é uma tentativa de definir o papel de Luís Duque na SAD, nesse período. Parece óbvia a oportunidade de escrutinar a atividade deste antigo dirigente da Liga do Futebol Profissional quando se fala numa sua possível recandidatura com eventual apoio do presidente do Benfica. Juntando à peça de hoje o que foi apresentado ontem, em que o mais visado parece ser o Benfica, temos, aparentemente, o Desportivo das Aves transformado em peão de brega de uma tourada alheia.
Saliente-se que é sempre a SAD com o nome do clube que está em causa e não o próprio clube.
Como já é tradicional, a justiça não é célere e a operação “mala ciao”, dois anos passados e como que para fazer prova de vida, foi recordada mas nada se acrescentou de novo. E como a explicação mais simples para certo tipo de contratos e de cumplicidades processuais pode ser a mais plausível, contornar a rigidez dos regulamentos sobre empréstimos de jogadores explica muito melhor a trama do que pela intenção premeditada de obter vantagens no terreno do jogo. Outros factos apresentados, como a venda de um jogador antes de concretizar a aquisição da totalidade do seu passe revela o simplismo amadorista da organização da SAD avense, um vale-tudo cujos efeitos ficaram visíveis quando Whei Zao (o detentor da maioria), no final da época, indicou a Andrade a porta de saída.
As peças do Público de hoje (7 de junho) põem em grande plano Duque e Andrade, tentando clarificar o papel do primeiro. Assessor jurídico da SAD ou advogado da empresa Galaxy Believers, dona da 90% da SAD. Duque esclarece que nunca foi dirigente da SAD e que tentou implementar no Clube “um plano assente na formação e nos jogadores da formação, nomeadamente através de um projeto para o Centro de Estágios. O artigo do Público esclarece que por “serviços jurídicos” Luís Duque faturou à SAD 22,5 mil euros em recibos verdes e rebate que a transferência de 40 mil para a sua conta resultou de ter ele próprio avançado com esse valor para a compra de um jogador. Sem que tenha obtido documento comprovativo da transação.
Os bilhetes da final da Taça são outro ponto sensível desta história: enquanto dos 3471 bilhetes no valor de 81 760 euroe entregues a Luiz Andrade não teve a SAD, segundo o Público”, nenhuma entrada em caixa, dos 398 bilhetes entregues a Luís Duque terá resultado uma entrada de 6.300 euros dos 10 800 que valiam. Uns foram pagos, outros oferecidos pelo Aves, assegurou Duque. Andrade afirmou ter decidido “que os bilhetes eram meus e queria fazer deles o que bem entendesse”.
É atribuído ainda a ambos o depósito de avultados valores em numerário, à revelia das leis relativas ao branqueamento de capitais, o que Duque nega mas Andrade refere que era dinheiro de Wei Zaho.
O trabalho do Público baseia-se quer nas contas da SAD, quer nas conclusões de uma auditoria à gestão, que Wei Zaho determinou quando tomou as rédeas da gestão no verão de 2018.