Espetáculo da companhia de teatro “Os 4 Ventos” apresenta uma leitura contemporânea da célebre peça expressionista de Alfredo Cortez, mergulhando nos meandros do poder e da ilusão dos media. Em cena na Fábrica de Santo Thyrso de 25 a 27 de julho, às 21 horas.
Entre 1933, ano em que dramaturgo português Alfredo Cortez assinou “Gladiadores”, e 2025, o mundo evoluiu mas parece que não saiu do lugar. E é precisamente este movimento elíptico do correr da história que impulsiona o processo criativo da companhia de teatro “Os 4 Ventos” para esta adaptação que estará em cena durante este fim de semana na Fábrica de Santo Thyrso.
O espetáculo é um ato de “rotura”. Rotura estilística com os cânones da época, apresentando-se sob forma expressionista e negando o naturalismo reinante na dramaturgia portuguesa, e rotura temática, ao sentir o pulso à ordem social a partir de uma espécie de “puzzle alegórico” repleto de personagens.
Para Pedro Ribeiro, encenador, o desafio desta adaptação de “Gladiadores” passava por perceber como fazer com que “não pareça propriamente uma caricatura da década de 30, mas sim um retrato de hoje, 2025”, mantendo a mesma “importância” da altura em que estreou.
Ajuda o facto de, como postulou Nietzsche, vivermos num “eterno retorno”. Se em 1933 era aprovada a Constituição do Estado Novo, em 2025 os “problemas com a imprensa ou com as artes” não diferem demasiado das preocupações evidenciadas no passado.
“Em 1933 as pessoas estavam a entrar num mundo novo da mesma forma que estamos a entrar num mundo novo neste momento”, sublinha. “Não sou analista, mas para mim que fiz a dramaturgia do espetáculo, sinto que estamos exatamente no mesmo ponto em que Alfredo Cortez escreveu os Gladiadores”.
Não é a primeira vez que Pedro Ribeiro e os “4 Ventos” mergulham nos meandros da democracia e do poder. Em 2021, a companhia de teatro tirsense apresentou “Terror e Miséria na Queda da Democracia”, uma pura sátira social. Aqui o registo é novamente elevado, mais alegórico, permitindo ao público criar uma relação diferente com os cenários “exacerbados” em cena. Não se trata de um espelho da realidade, mas uma porta de entrada para aquilo que borbulha epidermicamente, traçando analogias entre o passado e o presente.
“Espero que sirva para as pessoas pensarem naquilo que está a acontecer à sua volta”, realça. “Para que possam tomar decisões sobre as suas vidas e percebam como a sociedade é vivida. Esse é o papel do teatro”.
Não esconde o “desafio”, seja para a produção, seja para o público. É um espetáculo que exige um alinhamento de onda perfeito entre as várias partes. “É uma forma diferente de ver como o ser humano funciona”, remata Pedro Ribeiro.
“Gladiadores” está em cena na Fábrica de Santo Thyrso nos dias 25, 26 e 27 de julho, com sessões sempre às 21 horas. O bilhete normal tem o custo de 8 euros, existindo descontos para estudantes, grupos, sócios da companhia de teatro Os 4 Ventos e portadores de cartões municipais. Reservas e informações podem ser obtidas através dos contactos 964 310 500 ou do e-mail ctosquatroventos@gmail.com