Um roteiro por quatro esculturas do espólio ao ar livre do Museu Internacional de Escultura Contemporânea, mergulhando em pequenos detalhes e episódios das obras que pintam a cidade de Santo Tirso.
Vá para fora cá dentro, costumava ser o slogan promocional do Turismo de Portugal. Usando-o como mote, o Entre Margens incentiva à descoberta daquilo melhor o concelho tem para oferecer para um dia de passeio estival. E que tal, partir à descoberta do espólio ao ar livre do Museu Internacional de Escultura Contemporânea (MIEC). As esculturas pontuam a cidade, das margens do rio Ave ao parque de Geão, passando pelo centro histórico e são a desculpa perfeita para conhecer o trabalho desenvolvido ao longo das últimas três décadas por Alberto Carneiro, os simpósios que promoveu e o legado que hoje perdura.
À conversa com Álvaro Moreira, diretor do Museu, ficam aqui quatro pequenas histórias e curiosidades sobre quatro das 57 obras de arte espalhadas por Santo Tirso e prontas a serem visitadas.
“Le Non d’un Fou Se Trouve Partout” Paul Van Hoeydonck Granito 1997 Praça 25 de Abril
A escultura situada no jardim adjacente aos Paços do Concelho e que representa uma figura antropomórfica, abstrata e desconstruída em formas geométricas circulares, tem uma particularidade muito relevante. O seu autor, o belga Paul Van Hoeydonck é o único escultor, que se saiba, que tem uma peça na lua.
O feito remonta a 1971, quando o artista criou uma pequena peça intitulada “Fallen Astronaut”, com apenas 8,5 cm de dimensão e que foi transportada para a Lua na expedição Apollo 15, sendo lá depositada para a eternidade. Um marco muito importante e que “condicionou para sempre a obra do autor”.
“Uma Escultura Para Santo Tirso”
Pedro Cabrita Reis
Tijolo Cerâmico e Betão
2001
Avenida Unisco Godiniz
A controvérsia em torno da escultura que Pedro Cabrita Reis idealizou durante o 6º Simpósio é longa e tem, pelo menos duas fases distintas. Em 2001, aquando da sua implantação em plena baixa da cidade, junto ao Mosteiro e ao Museu, a reação popular não foi a melhor, intitulando-a mesmo “casa de banho”. A construção em tijolo, vem na sequência do trabalho que o artista tem levada um pouco por toda a Europa, com exemplos presentes em países como Alemanha ou Inglaterra.
Durante quase duas décadas, o peça tornou-se parte do folclore local até quando cerca de duas décadas mais tarde, Pedro Cabrita Reis regressou a Santo Tirso para terminar a obra com o acabamento exterior que não tinha sido concluído anteriormente, a população pensou que a obra estava a ser vandalizada.
Como reconta Álvaro Moreira, “ma altura em que estava a haver esse ato performativo, tive o cuidado de avisar a polícia, mas mesmo assim, houve munícipes que se foram queixar que estavam a vandalizar a escultura”. Ora a população levou o ato a peito e seguiu o exemplo do artista, apropriando-se das suas intenções e executando um ato anónimo na escultura, com o buraco visível na porta da escultura.
“Trade Winds”
Michael Warren
Ferro e Calcário
1996
Avenida Unisco Godiniz
A escultura do artista irlandês é um exemplo de como os artistas convidados a participar nos simpósios mergulhavam na cultura do país e do local onde estavam inseridos para realizarem as suas criações. Composta por três elementos em ferro verticais, “Trade Winds” são uma clara alusão à portugalidade, representando os panos das velas das caravelas dos descobrimentos.
“Estas particularidades são as âncoras do processo criativo”, sublinha Álvaro Moreira, num claro exemplo de como a partir deste tipo de intercâmbios floresce uma sociedade mais aberta ao mundo e aos outros.
“Sem Título”
Dani Karavan
Betão, Azulejo, Granito, Basalto e Água
1999
Praça dos Carvalhais
O escultor israelita é um peso pesado da escultura mundial, com um obra escultórica e peças monumentais sem paralelo a nível global. Para Santo Tirso, em 2001, o artista criou uma peça que muitas vezes passa despercebida à primeira vista, mas que o olhar atento revela pormenores deliciosos.
Localizada na Praça dos Carvalhais, a escultura é composta por duas colunas, um pequeno canal com revestimento de azulejo e uma fonte que brota dali se prolonga pela praça num circuito fechado.
Segundo Álvaro Moreira, as interpretações são várias, mas as referências são inescapáveis. As colunas são baseadas na fachada do Tribunal, como referência à justiça como pilar fundamental da democracia.
Depois, utiliza o azulejo como revestimento do canal como manto de portugalidade e depois o elemento água, em circuito fechado, como referência à “renovação da vida”, “renascimento e purificação”.
“É uma escultura ‘site specific’ que dialoga muito com a nossa identidade”, sublinha. “Está bem integrada no espaço que muitas vezes as pessoas interagem com ela, sem o saberem”.