No mundo dos cafés, o líder tem sede em Vila das Aves

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“Um bom expresso tem de ter 7 gramas de café, mas depois depende do fator humano”, revela Nélson Pereira, CEO e fundador da Norblend, em conversa descontraída com o Entre Margens sentados à mesa de café no átrio das novas instalações sede da empresa, em Romão, Vila das Aves.

Não é por acaso, como deve ser fácil de perceber. Beber um café é um ritual que traz associado uma simbologia própria que está bem visível para quem entra na Norblend. Há ao fundo um balcão, máquinas de café, mesas e cadeiras confortáveis, até um torrador exposto rodeado de sacos de produto em grão. Um toque de charme especial.

Fundada em 2004, a Norblend é hoje líder no mercado nacional em ‘vending’ no segmento ‘office’, ou seja, na colocação de máquinas de café expresso da marca Buondi em regime de comodato em âmbito sobretudo empresarial. Ao fim de quase vinte anos de atividade, os números já impressionam. No total, contam-se mais de 8 mil clientes, 80% destes empresariais, num território que cobre desde Braga a Aveiro, a faixa mais industrializada do país, mas também cerca de mil em regime particular. Contas feitas, traduz-se em mais de um milhão de cafés vendidos mensalmente.

Das etiquetas ao café

Nélson Pereira é um empresário proveniente de um contexto típico da região do vale do Ave. Família pobre de trabalhadores da têxtil, deixa a escola ao 9º ano por não haver possibilidades para continuar. Só mais tarde concluiu o 12º em horário noturno, na escola industrial. Depois do serviço militar, trabalhou na FTB, da família Abreu, iniciou o seu primeiro negócio em nome próprio na “montagem de chapas”, mas foi no têxtil que encontrou o primeiro filão com algum sucesso. Uma pequena empresa de etiquetas que acabou por sofrer com a deslocalização dos grandes grupos do setor para fora do país, poucos anos após o virar do milénio. O café acaba por surgir de uma oportunidade.

“É preciso estar atento à vida”, confessa Nélson Pereira. “A sorte bate-nos à porta a todos, só que muitas pessoas temos a porta fechada. Gosto de ser empresário, sou ambicioso e sempre estive atento ao funcionamento do mundo. Não posso ter medo de arriscar. Já mudei várias vezes de área, porque quando vejo que não dá, procura outra oportunidade”.

Recorda a visita a uma exposição na FIL, em Lisboa, onde reparou numa oportunidade de franchise no âmbito do ‘vending’ com máquinas de café expresso, pequenas, perfeitas para o mundo empresarial, mais fáceis de rentabilizar do que as de “moedeiro grandes” que vendem sandes ou chocolates.

À época, o franchise obrigava a um forte investimento e um número reduzido de máquinas. Ficou com a ideia na cabeça e abordou o assunto por outro lado. Através da internet encontrou um fornecedor italiano e pelo mesmo valor do franchise, em vez de 50 máquinas conseguiu 200, sem ficar fidelizado.

Durante algum tempo manteve o negócio dos cafés e das etiquetas em simultâneo. Investia o dinheiro que ganhava para comprar mais máquinas e crescer o número de clientes, patamar a patamar, de forma sustentada.

“O grande ‘senão’ deste negócio é o investimento logo à partida. Sou uma espécie de rent-a-car, tenho de comprar para depois rentabilizar. Comecei pequeno. O dinheiro das etiquetas dava para comprar máquinas, entretanto, no ano seguinte já tinha um balancete para apresentar ao banco para fazer financiamento de mais investimento e mais máquinas. Colocávamos as máquinas e já nos permitia vender mais café todos os meses. Fiz sempre financiamento por financiamento até chegar ao dia de hoje em que temos cerca de 13 mil máquinas”, explicou.

Nélson Pereira recorda um momento de há uns tempos quando, em conversa com os pais, revelou o valor total em máquinas que tinha no seu negócio e a mãe emocionou-se, começou a chorar de orgulho.

Se no início importava café de Itália, desde cedo que passou a ser representante da Buondi em Portugal, comercializando os dois produtos. Contudo, quando se viu obrigado a mudar de fornecedor e a qualidade do produto não era a mesma, apostou numa torrefação sua, para não ficar dependente. Criou uma marca própria e em vez de importar café italiano, comercializava o seu, a par das pastilhas da marca do grupo Nestlé. Uma fórmula de sucesso para o negócio da Norblend apesar da volatilidade inerente a uma torrefação de café.

“Produzir café é complicado. O mesmo lote de café torrado, num dia sai perfeito, no seguinte, se estiver mais humidade no ar, já sai carioca. Não há uma correspondência perfeita. As grandes torrefações têm fábricas com tudo controlado e climatizado, mas nós aqui não tínhamos condições para isso”, elucida o empresário.

Há cerca de cinco anos, quando já eram o maior cliente da Buondi, mesmo tendo em conta de 65% das vendas eram da marca própria, o gigante do grupo Nestlé apresentou uma proposta de exclusividade muito vantajosa para a empresa liderada por Nélson Pereira. Hoje, os números supracitados, falam por si.

Um milhão de cafés em pastilha de papel filtro (um formato diferente da cápsula que o empresário vê apenas como uma “moda”), mais ecológico e de melhor qualidade. Como explicou ao Entre Margens, os maiores fatores para se estragar um expresso estão relacionados com o erro humano. A pastilha elimina-os quase por completo.

“O café depende da gramagem, moagem e da prensagem”, realça. “Vamos a um café, com máquina boa, moinho bom, bom produto, mas depois sai mal. Porquê? Porque o maior inimigo do café é o oxigénio e um dos grandes erros acontece quando as pessoas ligam o moinho de manhã, enchem o recipiente e assim ficam com café para o dia todo. Ora, o café em pó oxida rapidamente. Quanto à gramagem, o que sucede é que em vez dos 7 gramas de um expresso, tiram com seis ou até cinco, portanto fica mais fraco. Por fim, a prensagem, que varia sempre muito de pessoa para pessoa. A pastilha anula esses fatores porque têm todas a moagem, todas a mesma gramagem e todas a mesma prensagem, com a vantagem de ser um produto limpo”.

Novas instalações simbolizam fase de estabilidade

Esta nova fase da vida da empresa, espoletada pelo contrato de exclusividade com a Buondi, permitiu finalmente a Nélson Pereira pensar num espaço próprio, algo que até aqui rejeitara porque preferiu concentrar toda a capacidade de endividamento para investimento dirigido ao crescimento do negócio. Agora, com o mercado estabilizado, era o momento ideal.

O investimento total realizado num terreno junto à fábrica de Romão, ascendeu aos 1,2 milhões de euros. Um projeto com impacto que o seu ADN avense quis implantar na terra que o viu nascer e crescer.

“Ao arquiteto Ricardo Azevedo disse que não queria apenas um armazém com quatro paredes e uma porta. Queria um projeto com impacto e lembrei-me de uma visita que fiz a uma torrefação em Itália, em que quando entrávamos dávamos de caras com um café, não era apenas um escritório. Um conceito que quis transpor. Cada cliente que aqui entra, enquanto se tratam se tratam dos assuntos, pode sentar-se e beber um cafezinho”, revelou ao Entre Margens. Objetivo conseguido. Não só interior cumpre com esse desígnio como é impossível escapar ao impacto da fachada exterior, seja na estrada da Pinguela, seja na envolvência das históricas áreas industriais de Romão. É marcante e inescapável, símbolo daquilo que pode ser uma nova era para a atividade económica de Vila das Aves.

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