[Entrevista] Joana Machado Guimarães: “A câmara não dá prioridade aos tirsenses”

ATUALIDADE

Partido Chega apresenta-se pela primeira vez a eleições autárquicas com o objetivo de ser “a voz da oposição” que diz ser inexistente em Santo Tirso. Candidata acusa câmara de falta de transparência.

Parque D. Maria II, Santo Tirso

O partido é estreante, a candidata também, mas o apelido é facilmente reconhecível: Machado Guimarães. Neta do grande industrial têxtil associado à Fiatece e à Rio Vizela, Joana, cabeça de lista do Chega à câmara municipal de Santo Tirso, afirma-se “socialmente conservadora” e “economicamente liberal” uma formulação ideológica que não vê em qualquer outro partido político do sistema.

Em conversa com o Entre Margens em pleno coração da cidade, a candidata compara a política tirsense ao estado do rio Ave devido à “falta de transparência”, apontando agulhas não só ao Partido Socialista que gere os destinos do município há 38 anos, como à oposição que diz ser “inexistente”.

Joana Machado Guimarães no Parque D. Maria II em Santo Tirso

A Joana Machado Guimarães não tem um passado de política ativa reconhecido, o que a levou apresentar-se a eleições pelo Chega?

Desde que me conheço que sou assumidamente de direita e o Chega é o partido mais à direita em Portugal. O CDS morreu, não tem projeto e o Chega aparece como a maior força política de direita. Não de extrema-direita, como dizem, mas de extrema necessidade. Conservadores na parte da família, conservadores na parte dos valores e princípios, liberais na parte económica. Não vejo outro partido com estas características.

Esta é a primeira vez que o Chega se apresenta a autárquicas. O que motivou o partido a dar este passo em Santo Tirso?

O objetivo do partido é concorrer em todos os concelhos. O Chega está em fase de crescimento, historicamente não conheço um partido com dois anos que se candidate a todas as câmaras. Seria de todo o interesse que se apresentasse a todas as freguesias, mas isso não será ainda possível.

Vê em Santo Tirso um concelho com características que assentam ao programa político do Chega?

O Chega é claramente um partido de oposição. Será esse o nosso papel. Eu poderia estar aqui a dizer que irei ser a próxima presidente da câmara de Santo Tirso, mas sendo realista sabemos que o Chega vai fazer “a oposição”, porque neste momento não temos oposição na câmara.

Quando observa o concelho, o que salta à vista à candidata Joana Machado Guimarães?

Até iniciar esta aventura na política, tinha a noção da realidade que a maior parte das pessoas têm. A realidade de Vila das Aves onde vivi muitos anos, a realidade da cidade de Santo Tirso, já a realidade das outras freguesias não conhecia profundamente.

Somos uma população de socialismo enraizado, com falta de visão, não por parte dos munícipes, mas por parte da câmara. Somos uma cidade bem localizada, com proximidade às maiores cidades do Norte e que não está a ser aproveitada.

O problema é que se preocupam demasiado em embelezar a cidade com monumentos e esculturas. Isso para mim não é prioridade. A minha prioridade é dar dignidade aos tirsenses. Se os políticos não têm dignidade, também não a podem passar à população.

A desagregação das uniões de freguesia volta a estar na agenda política. Será benéfico para as populações regressar à independência do passado?

Apoiaremos quem quiser desagregar. Já apresentamos candidato a Vila Nova do Campo que tem como bandeira a desagregação da freguesia. Tivemos uma reunião com o movimento de Refojos que já recolheu 453 assinaturas.

Vejamos a união de Santo Tirso que engloba Burgães, Santa Cristina e São Miguel do Couto. Acha que o presidente da junta está nessas quatro? São freguesias completamente distintas umas das outras. Não há proximidade.

O Chega como partido recém-chegado vai conseguir apresentar candidatos a todas as freguesias?

Gostava muito, mas não será possível. Daqui a quatro anos espero que sim. Temos sido bem recebidos em todas as freguesias. quando há um ano e meio me envolvi neste projeto do partido, causei algum espanto lá em casa. Tu no Chega? Porquê o Chega? Os racistas e os xenófobos? Eu só respondi: mas eu sou racista? Não. Eu não sou uma pessoa que respeita as pessoas? Sim. O Chega está finalmente a passar a ter a conotação sobre o que nós somos, não do que dizem de nós.

Em junho deste ano, a distrital do partido decidiu exonerar o até aí presidente da concelhia, Artur Carvalho. A que se deveu esse afastamento?

Prefiro não comentar. Primeiro, porque é um assunto da distrital e eu estou aqui na qualidade de candidata à câmara municipal. É algo que ainda está em processo interno e, portanto, não queria adiantar muito.

Para quem não conhece a Joana Machado Guimarães, como é que se apresentaria? Qual a característica que melhor a define?

Sou muito resiliente e considero-me uma mulher corajosa. Acho que sou simpática, mas não acho que seja politicamente correta. Sou frontal e trato as pessoas com respeito, mesmo aquelas que não me agradam.

Com expectativas parte para o processo eleitoral? Com as melhores possíveis. Tendo em conta os resultados passados, as perspetivas são boas. Depois, penso que nas autárquicas vota-se muito em pessoas, não tanto no partido associado. Quem votar nesta candidatura, vai votar por mim, Joana Machado Guimarães e pelo André Ventura. Eu sou a representante do André em Santo Tirso e a voz dos tirsenses. O importante é que as pessoas que se queixam vão votar. Há muito medo instaurado no concelho. É preciso muita coragem para entrar na política tirsense.

[Ler Entrevista Completa na Edição 676 do Entre Margens]

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